*Franklin Jorge
O gênero humano perdeu em 24 de abril João Fernandes Claudino. Norte-riograndense de Luís Gomes, onde nasceu em [1930], foi um grande empreender e filantropo que fez de sua biografia um exemplo admirável. Seu pai fundou os Armazéns Paraíba, que João transformou em um conglomerado de empresas que dão emprego direto a mais de 17 mil pessoas.
Antes de concentrar seus negócios no Piauí, quis fazê-lo no RN, sua terra, mas foi esnobado pelo então governador José Agripino, que o tratou com desprezo, talvez por seu jeito simples de sertanejo afeito às labutas. Hoje a história do Piauí se conta por duas datas: antes e depois de João Claudino instalar-se lá, criando com o seu tirocínio emprego e renda que fizeram o estado mais pobre da Federação prosperar e sair da extrema pobreza a que estava condenado.
Não era um homem comum, desses que se enterram com suas riquezas ou as desfrutam egoisticamente, sem pensar no próximo. Por sua índole, não se sentia bem sabendo que há miseráveis no mundo.
A obra em progresso que implantou em Luís Gomes, onde nasceu e viveu sua infância, o comprova. Não há em Natal, capital do nosso estado, nenhuma obra do governo que se lhe compare. Refiro-me à Fundação Francisca Fernandes Claudino, empreendimento que faz dessa cidade, encastelada na serra de Bom Jesus, um lugar especial e à parte do restante do Rio Grande do Norte. Uma instituição educativa e cultural sem similar na capital do RN.
Filho do fundador dos Armazéns Paraíba que começou como pequeno bodegueiro, ampliou a herança paterna, desdobrando-se em negócios os mais variados e bem-sucedidos, que incluem, entre outras coisas, construtora, parque gráfico, condomínios, shoppings em três ou quatro estados do Norte, fabricas de bicicletas, frigoríficos, grifes de roupas e laticínios, porém sua grande obra é de cunho humano. Ninguém, como ele, para valorizar o homem, ao descobrir com olho de águia as potencialidades de cada um.
Seu combustível era o trabalho. E o talento de saber extrair, de cada um, o melhor de si, ao mesmo tempo em que encarava a vida com generosidade. Baste-nos, para exprimir o seu espírito arguto e prático um fato de sua rica e vasta biografia. Quando ainda jovem, gerenciando o Armazém Paraíba em Uiraúna, deu-se contas que uma mulher que lhe comprara uma máquina de costura deixara, há meses, de pagar-lhe as prestações. Foi pessoalmente à casa da mulher e a encontrou muito aflita com o filho doente, razão pela qual deixara de costurar para dedicar-se à salvação da criança. João tomou para si os cuidados da criança e propôs a costureira que, passada aquela hora escura de sua vida, passasse a costurar para ele com os tecidos que ele lhe forneceria, calças e camisas que ele compraria por um preço justo. Assim foi acertado e feito e ele passou a vender nas feiras essa produção que se foi ampliando com o trabalho e a participação de outras mulheres pobres e desvalidas. Todos saíram ganhando com essa solução e com o tempo João Claudino evoluiu para a confecção de grifes conceituadas.
Sua morte empobrece, sem dúvida, o gênero humano. Embora sua vida constitua um exemplo para um tempo tão pobre de homens e para as gerações futuras.