*Percival Puggina
O confronto entre o terrorismo do Hamas e o poderoso sistema de defesa militar de Israel acabou me trazendo uma informação nova e terrível sobre o que está acontecendo com a comunicação social.
Meus leitores habituais sabem a importância que atribuo à preservação de nossas raízes culturais e à seiva que trazem ao tempo presente. Tenho consciência dos males de que nos protegem os princípios e valores que preservamos. Sei quanto bem nos produz o conhecimento herdado sobre o bem, o belo, o justo e o verdadeiro.
Há uma guerra cultural em curso e seu alvo é o Ocidente. É evidente que sua destruição ou submissão a qualquer outra Cultura ou à avidez de alguma forma de totalitarismo precisa derrubar seus pilares. Os filósofos do revolucionarismo os conhecem e atacam: a tradição religiosa judaico-cristã, o bom Direito que herdamos de Roma e a sã Filosofia legada pela Grécia.
Esse enfrentamento se dá no tempo presente e segue a cadência dos acontecimentos, conforme os conhecemos no noticioso noturno, nas manchetes matinais, nas “narrativas” que mudam a cor do céu e da grama. O escrutínio das manchetes é das tarefas que mais surpresas revelam a quem estiver apto a identificar suas maliciosas construções.
A mentira é arma de todas as guerras e não seria diferente na guerra cultural, guerra supostamente mais humanista, na qual, aparentemente, não corre um único fio de sangue. Surge, então, o fenômeno moderno da fake news, tarefa assumida por desmiolados de parte a parte. “Se eles fazem, vamos fazer nós também”. Que estrago, senhores! Cada dia nos chega com sua carga de dejetos produzidos por camarões humanos que têm os intestinos no lugar do cérebro.
Sempre é bom lembrar que há atividade mais danosa que a dos propagadores de fake news. Refiro-me aos autores de fake analysis quando, não respeitando sua titulação, torturam os fatos e a ciência nos porões das conveniências políticas.
Uma nuvem negra avulta, agora, no horizonte do Ocidente acossado pela guerra cultural. Ela surge como consequência do trabalho abestado dos propagadores de fake news. O fato nu e cru desaparece de toda conversa levando consigo nossa capacidade de conhecer o que não transcorreu sob nossos olhos! Basta que alguém invoque o estigma verbal gritando “Fake news!” para que o fato, suas causas e consequências percam sentido e se dissipem no ar.
Assim, num verdadeiro crime de laboratório intelectual, a verdade – não a mentira – está a morrer diante de nossos olhos enquanto as pessoas só acreditam no que serve para suas cabeças como os sapatos que usam servem para seus pés. Não há mais realidade nem compreensão da realidade.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.