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O prazer da conversa

Um dos melhores hábitos é a conversa. A conversa sem pretensão! Descontraída e profunda como o bom ócio, da qual é companheira.

*Ilan Stavans

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Ilan Stavans: De qualquer forma, como aperitivo, quero contar-lhes que nos últimos anos tenho mantido diálogos com jornalistas, filósofos, tradutores, diretores de teatro e poetas. Há algo na conversa que adoro. Não sei quem disse que a única pátria do escritor é a sua língua. Tenho várias pátrias: espanhol, inglês, iídiche, hebraico… Essas conversas a que me refiro foram realizadas na língua que me une ao interlocutor. Não estou falando da entrevista como tal, o que me parece mecânico. Refiro-me ao diálogo não no sentido socrático porque estes encontros procuram encontrar uma verdade absoluta, suprema e inquestionável, mas antes o seu objetivo é o diálogo lúdico e casual. Desnecessário dizer que há muito de literário nisso. O prazer da conversa, para mim, é que ela começa em qualquer lugar e termina no mesmo lugar.

Juan Villoro: Um dos melhores conversadores que conheci foi Alejandro Rossi. Dedicou horas ao assunto e sua maior virtude foi saber ouvir. Borges diz que toda cultura provém de uma invenção grega peculiar: a conversação. De repente, um grupo de homens decidiu algo estranho: trocar palavras à toa, aceitar as curiosidades e opiniões uns dos outros, adiar certezas, admitir dúvidas. É daí que vem todo o resto. Isto foi enfraquecido pela Internet, pelo Twitter e pelo Facebook, já é lugar-comum dizê-lo, e certamente faltam locais de encontro para conversar sem objetivos. É por isso que celebro este diálogo, só lamento que entre as suas palavras e as minhas não suba a fumaça de uma xícara de café.

 

Ilan Stavans e Juan Villoro
O olho na nuca