• search
  • Entrar — Criar Conta

O prefeito Cara de peroba [Final]

Famoso por humilhar e degradar professores, prefeito de Natal revela-se um tirano em suas motivações, sobretudo ao negar direitos arduamente conquistados por trabalhadores da educação.

*Adalgisa Assunção

O prefeito de Natal, Álvaro Dias, vem sistematicamente se negando a pagar o reajuste salarial dos professores da rede municipal, descumprindo uma determinação legal. Por isto, cansados do completo desrespeito e também motivados pela falta de condições adequadas à realização do seu trabalho, a categoria decidiu suspender as atividades, até que o prefeito cumpra com a lei, pagando o reajuste de 12,84% que se encontra atrasado desde 2020.

Não é demais lembrar, que durante o auge da pandemia, os professores foram obrigados a interromper suas funções dentro das escolas. Todos foram obrigados a viver esta situação. Porém, diferentemente do que apregoam os Blogueiros e jornalistas desinformados, os profissionais foram obrigados a ministrar suas aulas de forma remota, arcando com todos os custos deste trabalho.

Assim, os professores viram suas despesas aumentando através da conta de energia e de internet. Também foram obrigados a utilizar seus equipamentos eletrônicos como computadores, tabletes, televisores e aparelhos celulares, porque o prefeito e a secretária de Educação queriam o trabalho realizado. Mas como este trabalho seria realizado, ficaria a cargo da criatividade do professor. Muitos profissionais foram obrigados a apagar nomes de amigos e familiares da agenda pessoal de seus telefones, a fim de comportar nomes de alunos e pais.

O mais grave é que, enquanto a despesa cresceu, o salário do professor foi reduzido. Em plena pandemia, ocasião de grande dificuldade para todos, o prefeito mandou cortar o percentual correspondente à carga suplementar dos nossos salários. Agora, começa a devolver estes valores em doses de conta gotas. Este modo, porém, revela o lado mais perverso e até desumano do prefeito. Ele paga tudo na mesma folha salarial, gerando um imposto de valor absurdo a ser descontado. Logo, ele paga com uma mão e toma com a outra.

Para se tornar professor, é necessário fazer um curso de Pedagogia ou de Letras, cuja grade curricular prepara o futuro profissional para ensinar a ler, escrever e contar, conforme é a responsabilidade histórica da escola. A escola de hoje, porém, foi transforma numa sucursal da Semthas, onde os professores atuam como assistentes sociais, médicos, psicólogos, padres, juízes, mediadores de conflitos familiares etc. E o mais grave é que ninguém recebeu instrução adequada para este papel.

O prefeito poderia informar à população, que o professor paga para trabalhar. Dentro de uma escola, os professores pagam pela água, cafezinho e até pelas festinhas realizadas dentro da instituição.

E tem mais: A lei garante que, professores têm direito a receber quinquênios e licença especial após cinco anos no exercício de suas atividades. Os profissionais são avaliados a cada dois anos, ocasião em que devem mudar de letra, de conformidade com o Plano de Cargo, Carreira e Salário – criado pela prefeita Wilma de Faria (em memória). A cada vez que um professor conclui um curso de Especialização, Mestrado ou Doutorado, conforme a lei, deverá ter um percentual acrescido ao seu salário.

Isto é lei. Está juramentado e sacramentado no papel. Apenas no papel, porque para receber de fato, este acréscimo no contracheque, é preciso “brigar” na Justiça. Eu já conto com 18 anos de trabalho como professora concursada e com prestação de serviços à Secretaria Municipal de Educação. Portanto, tenho direito a três licenças especiais que jamais me são concedidas, mesmo solicitando meu direito através das vias judiciais.

O prefeito se vale da autoridade que o reveste, para anunciar através das emissoras de rádio da cidade, aquilo que lhe convém, ou seja, a verdade sob o ponto de vista de um administrador pouco preocupado com a qualidade da Educação que oferece à população.

Do ponto de vista dos professores, o prefeito, a secretária de Educação, políticos em geral, Blogueiros e jornalistas, são desinformados, no que se refere à Educação. Antes de classificar professores como “vagabundos” e “preguiçosos” visitem as escolas da cidade. Passem pelo menos um dia acompanhando a rotina de um professor para conhecer a realidade do seu trabalho.

É doloroso constatar que os veículos de comunicação da atualidade só mostram um lado da verdade. Entretanto, a história da comunicação, da sociologia e da filosofia nos ensina que, ao se fazer uma entrevista ou uma reportagem para qualquer veículo, jamais se deve esquecer de ouvir o outro lado. É importante que todos conheçam os dois lados da história.

Como professora fico estarrecida ao ler, ver e ouvir os noticiários locais, onde os jornalistas que mais se destacam no cenário potiguar, falam errado e escrevem errado. Muitos deles, nem conseguem definir o que é um conto, fazendo questão se concorrer com os ícones cômicos da televisão brasileira.

Tudo isto, porém, é culpa dos governantes e da forma desleixada com que tratam a Educação em nosso País. Temos os piores políticos do mundo, porque eles precisam passar pelos bancos escolares e não precisam de diploma para se profissionalizarem na carreira política.

Quando as coisas vão bem na Educação, tal sucesso é atribuído ao prefeito, governador, secretários de Educação, diretores das escolas, coordenadores, aos programas da Fundação Ayrton Senna, a projetos educacionais importados de outros estados ou de outros países.

A presença de pais na escola embora mínima, também tem seus méritos. Enfim, todos são responsáveis pelo sucesso da Educação. Quando existe algum. Aos professores restam às culpas pelo fracasso. E viva a nossa Pátria Educadora!