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O prefeito Cara de peroba (l)

Professora humilhada e escorchada em seus direitos arduamente conquistados, não podendo reclamar ao bispo que tem um pé na prefeitura, escreve artigo, mostrando ao leitor de Navegos as mazelas de quem trabalha na Educação em Natal.

*Adalgisa Assunção

Em recente entrevista à uma emissora de rádio da cidade, o prefeito de Natal, Álvaro Dias, afirmou desconhecer as razões pelas quais os professores da Rede Municipal de Educação deflagraram uma greve, com início para esta sexta-feira, dia 10/Dez/2021. Sem a menor cerimônia, ele afirma ter oferecido um percentual de 6,42% para quitar o valor de 12,84% no reajuste salarial da categoria, que foi estipulado por lei. Durante a entrevista, o prefeito afirmou o seguinte: “ A gente paga estes 6,42% e o resto se vê depois como pode ser parcelado, de acordo com os recursos da Prefeitura”.

Ele, porém, esqueceu de esclarecer aos ouvintes, que os recursos para quitar todos os custos relacionados à Educação, inclusive pagamento de salários da categoria, são oriundos do Fundeb – uma verba carimbada, conforme o linguajar político. Logo estes recursos não podem ser desviados para outras questões.

Portanto, diferentemente daquilo que o prefeito afirma, existe sim, verba para pagar o reajuste salarial dos professores e até para pagar 14º salário, caso ele queira entrar para a história.

Além de se negar a pagar aos professores que se encontram em plena atividade, ele teima em desconhecer a existência dos aposentados, que também devem receber o reajuste e que também têm necessidade dos seus salários, porque já deram sua contribuição à Educação deste País lindo e trigueiro.

Falta dinheiro para pagar direitos sagrados aos professores, mas não falta para bancar circo para a população, como forma de ludibriar a consciência popular, através de festas que em nada contribuem para melhorar a vida do povo.

Então, para refrescar um pouco a memória do prefeito, elenco algumas razões pelas quais os professores vão entrar em greve:

Em primeiro lugar é preciso lembrar, que o servidor público municipal tem direito à greve. Este direito está assegurado pelo Artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal. Mas, apesar disto, o professor não faz greve. Apenas sacrifica as férias para lutar por um direito sagrado: seu salário. O período das férias é utilizado para repor os dias parados. O pior é que, quando professor tira férias, somente um ano depois é que recebe o percentual correspondente a este período.

Curioso também, é que outros profissionais como médicos, enfermeiros, policiais e motoristas fazem greve, mas não são obrigados a trabalhar em horários extraordinários para fazer a reposição dos dias parados, em que não prestaram serviços à população.

O prefeito parece ter esquecido de que as perdas salariais da categoria se arrastam desde a administração de Micarla de Sousa e somam mais de 30%. Em 2020 o governo federal determinou um reajuste de 12,84% nos salários dos professores, mas ele quer pagar apenas 6,42%.

Ele também parece ter esquecido que, no auge da pandemia, quando os professores foram obrigados a trabalhar de forma remota, ele mandou cortar dos nossos salários, o percentual correspondente à Carga Suplementar. E fez isto com requintes de crueldade, sem considerar que a categoria aumentou sua despesa com a conta de energia e de internet, uma vez que o custo adicional com esta despesa ficou a critério de cada professor.

Além disso, os profissionais ainda foram obrigados a usar seus próprios equipamentos eletrônicos, como computadores, tabletes, televisores e telefones celulares. Muitos foram obrigados a apagar sua agenda pessoal, a fim de adicionar os nomes dos alunos e de seus pais.

A secretaria municipal de Educação já autorizou o retorno total de todos os alunos às escolas. Mas os professores continuam sendo obrigados a trabalhar de forma extraordinária com as aulas remotas, para atender àquelas crianças que não estão vindo à escola.

Dou um doce, uma cocada e uma rapadura inteira, se alguém provar que o prefeito e a secretária de Educação trabalham, no dia em que o aparelho de ar condicionado de suas salas não estiver funcionando adequadamente. E mais: dou uma caixa de chocolate da Cacau Show, caso alguém me prove que eles pagam pela água e pelo cafezinho servido na repartição em que trabalham.

Enquanto isso, os professores dão aulas em ambientes tão quentes, que nem podem ser comparados ao calor do inferno, porque está sobrando um grau e meio. É verdade que existem dois ventiladores em cada sala. Ocorre que, quando funcionam, fazem tanto barulho quanto uma turbina de avião, impossibilitando ao professor falar.

Durante a administração de Fernando Henrique Cardoso, ele sancionou uma lei que determinava a climatização de todas as salas de aula existentes no Nordeste Brasileiro. Ao tomar conhecimento de tal lei, o prefeito de Natal, da época, Carlos Eduardo Alves, vetou-a, condenando os professores natalenses, a trabalhar nos bastidores do inferno.

Antes de entrar em uma sala de aula, o professor precisa estar graduado em um curso de Pedagogia, Letras ou assemelhados. Mas hoje, além de dar aulas, o professor é obrigado a atuar como psicólogo, médico, conselheiro familiar, mediador de conflitos, padre e às vezes, até como conselheiro sentimental.

Isto porque a escola perdeu sua capacidade histórica de ensinar a ler, escrever e contar, já que se transformou em uma sucursal da Semtas.  Professores, por sua vez, foram transformados em assistentes sociais, mesmo sem formação para tal.

Para ser candidato a governador e garantir os votos dos professores, Álvaro Dias vai ter que deixar de ser pão duro. Precisa tomar consciência de que deve aos professores. Também poderia ganhar votos extras equipando as escolas com o material necessário ao trabalho dos docentes, como a máquina Xerox, por exemplo, cujo aluguel está atrasado desde julho deste ano.

Para ganhar com folga, climatização das salas seria fantástico, mas a presença de um fonoaudiólogo na escola ensinando professores como usar adequadamente o diafragma, sem muito esforço para falar durante as aulas, certamente o tornaria campeão de votos.

E para fechar com chave de ouro sua vitória, bastaria convidar a secretária de Educação e um grupo de Blogueiros e jornalistas para ficar durante 40 minutos em uma sala de aula numa das escolas da periferia de Natal. Não tenho dúvidas de que o nobre prefeito será carregado nos ombros dos professores. Mas, a atualização do salário não pode ser esquecida.