*Antenor Laurentino Ramos
Fundado em 1915 e dirigido por Afonso Ernesto Belmont, Tabelião Píblico do lugar. Jornal político-literário, fora criado para fazer oposição ao Governo Ferreira Chaves e ao chefe político local, o Coronel Anísio de Carvalho. Seu redator-chefe era L. Costa Andrade. É o periódico mais antigo de que se tem noticia por ali.
Outros jornais houve na cidade, nos diversos tempos, entre eles o Urtigal, iniciativa elogiosa de três jovens, Jaime César, Flamínio e Pinheiro, futuro jornalista de renome em Natal, todos os três, filhos da terra; contribuíram para o enriquecimento cultural da Rainha do Agreste. No que se refere ao Jornal “A Liberdade”, tivemos acesso a alguns de seus números, gentilmente, cedidos pelo escritor Jurandir Navarro, muito digno diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Embora, já em adiantado estado de deterioração, podemos ver ali, relatos de acontecimentos importantes da cidade e de pessoas de destaque. Lendo-os, é como se revivêssemos os tempos antigos. Lá está uma manchete de primeira página, a anunciar o falecimento do Coronel Affonso Belmont pai do proprietário do referido Jornal, rico fazendeiro e político de projeção em Serra de São Bento e que chegou a Deputado pela Província do Rio Grande do Norte. Narra-nos, com detalhes, o funeral, ocorrido naquele povoado.
Entre outras informações, há anúncios dos grandes comerciantes de Nova Cruz desse tempo: a Casa Arruda Câmara, de Antonio Arruda Câmara, com produtos os mais variados à venda e grande “stock” de “kerozene” para o consumo local. A Pharmácia de Dr. Fernando Guilherme, um quase-médico do lugar, a casa Amâncio Ramalho, de “Seu Odilon”, a loja de Alfredo Belmont, em Serra de São Bento, a de Antonio Thiago Gadelha Simas, em São José de Campestre. A Coluna Social a falar da “influenza”, a famosa gripe espanhola, que fez inúmeras vítimas na sociedade novacruzense. Dona Amélia Marinho, esposa de Nestor Marinho, vulto importante de Nova Cruz, foi uma das figuras contaminadas pela terrível epidemia, além de Candinha Belmont, esposa do proprietário do Jornal. Há cumprimentos ao capitão Antonio Arruda Câmara e família pelo aniversário do primogênito Domício e ainda, notícias locais, um artigo, enaltecendo Rui Barbosa, grande tribuno e político do país e informando sobre Epitácio Pessoa, representante diplomático do Brasil no exterior e cotado para ser o próximo Presidente da República. Na primeira página, um poema de Othoniel Menezes, poeta potiguar. Noticias, também, da visita a redação dos jovens, Adauto Azevedo, de Santo Antonio do Salto da Onça e Emídio Rodrigues de Canguaretama.
Muito importante o Jornal A Liberdade! Serve de documento precioso para se conhecer a história da cidade de Nova Cruz da República Velha. O movimento diário dos trens de passageiros, a levarem e a trazerem gente, a exibição, à noite, de filmes, no Cinema Ferreira Chaves de “Seu Odilon”. Até as ocorrências policiais são tantos outros eventos que nos fazem reviver o dia a dia da chamada região do Curimataú.
Nova Cruz precisa, com urgência, resgatar a sua memória. Ela não se limita, como muitos de hoje imaginam, a acontecimentos das décadas posteriores aos anos 60, e de muitos dos quais fui testemunha também. Há fatos de grande relevância que merecem ser relembrados, fatos dos primórdios do século XX. Por uma questão de justiça histórica, devem ser redescobertos, a fim de que a gerações novacruzenses do presente possam conhecer bem e melhor, a vida de sua terra. O Jornal A Liberdade é um desses marcos históricos, já de muito esquecido, nos dias atuais, mas que não deve continuar ignorado pelos “fazedores de cultura do lugar”. Nova Cruz e seu povo não merecem isso! Já é tempo!