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O público e o privado

Cultura da apropriação indébita contamina instituições e empobrece acervo cultural do Rio Grande do norte.

*Franklin Jorge

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Um caso muito antigo e certamente esquecido refere-se a época em que o poeta Augusto Severo neto era diretor cultural da Fundação José augusto havia séculos sem fim. Naquela época, de grande efervescência cultural, sob o Regime militar que investiu extraordinariamente em cultura e especialmente na edição de livros que nos fizeram ter uma ideia precisa da riqueza da nossa literatura, antiga e contemporânea.

As bibliotecas abundavam e até o Assu, sempre esquecido por todos, ganhou um excelente núcleo bibliotecário. Foi quando li pela primeira vez Maria Helena Cardoso, Eugênia Sereno e outros autores de difícil acesso ou esgotados.

Pois bem. As paredes da Fundação José augusto achavam-se coalhadas de obras de nossos artistas, pois estabeleceu-se, em prejuízo dos nossos artistas, que todos os expositores teriam de doar uma obra ao acervo da instituição, que pretendia constituir um acervo capaz de no futuro se transformar no núcleo inicial de um museu de arte.

Fui muitas vezes à FJA apreciar esse acervo que tinha obras significativas, pois vivíamos naquele tempo um período de grande efervescência cultural no qual as exposições eram quase semanais e atraiam um publico jovem e curioso que tinha pela primeira vez ao seu alcance exposições de obras de arte que revelavam especialmente os nossos talentos, como Fernando Gurgel, Gilson Nascimento, Itamar Araújo, Arruda Sales, José Stélio, Diniz Grilo, dentre muitos outros que a memória agora me sonega os nomes, mas não o brilho de tais acontecimentos.

Passava horas apreciando essa coleção que crescia a olhos vistos, embora me parecesse uma forma de exploração dos artistas que pagavam daquela forma, doando suas obras, a um instituição que podia compra-las, se quisesse, embora fosse mais fácil espoliar os artistas que até se sentiam gratos por ter sua obra exposta. Sempre fui do contra e defendia a aquisição das obras, não essa troca desavergonhada.

Pois bem. Um belo dia, nessas mudanças de governo, Augusto Severo Neto foi demitido da função da qual já estava encruado. E ao sair levou consigo todas as obras até então amealhadas. Procurei-o para ter certeza do que acontecerá e ele, na maior cara de pau do mundo, declarou que as obras foram doadas a ele, augusto, e não À Fundação que não tinha prestigio para os artistas e todas aquelas obras lhe haviam sido presenteadas em sinal de amizade e gratidão por seu suposto mecenato às custas dos recursos do contribuinte. Ainda tentei fazer com que fossem devolvidas, mas fui voto vencido. Apesar de os artistas, ao entregarem as obras, assinarem um documento doando-as à instituição.