• search
  • Entrar — Criar Conta

O que é português é bom

Colaborador de Navegos chega ao penúltimo artigo da séria na qual analisa documentário da Amazon Prime sobre a clássica obra cascudiana, História da alimentação no Brasil.

*Francisco Alexsandro Soares Alves

Quanta novidade Portugal trouxe ao país que fundaram. De tudo o que conhecemos hoje e consumimos, boa parte é portuguesa. E é por Portugal que muitos produtos são conhecidos em outras nações, a bravura dos grandes navegantes, singrando vastos mares que eram os mares das lágrimas de Portugal, como nos fala Pessoa e, por ele, sentimos a verdade profunda e poética de que o mar vasto é português.

Esses verdadeiros argonautas transformaram cada lugar por onde passaram. Humanos e filhos de seu tempo, sua fortaleza destemida conquistava sem pudor algum. Porque eram homens e mulheres vitoriosos. Eram portugueses.

Eles esbanjaram tudo: levaram para a África, para a Europa, para a Índia. Globalizaram o mercado e tudo isso, com o passar dos anos, teria como centro o Brasil.

No Brasil, os portugueses introduziram o uso do açúcar e do sal. Os indígenas foram apresentados aos doces, às sobremesas e a um alimento que em Portugal é praticamente sacralizado: o pão de trigo.

Os povos que viviam aqui antes da fundação do que hoje é o Brasil, ficaram encantados com essas sobremesas, ao mesmo tempo que também sabiam dialogar com os navegantes em termos alimentares: os portugueses foram apresentados à mandioca, que, se no início não aprovaram, a necessidade, bem como as modificações no preparo, feitas pelas cozinheiras portuguesas, ajudaram na assimilação ibérica dessa iguaria maravilhosa.

É difícil definir uma culinária portuguesa. E é até explicável isso: um povo globalizado e mercantilista como o português absorve de tudo, ao mesmo tempo que compartilha. Porém há determinadas raízes alimentares que são reconhecidamente portuguesas: o bacalhau, o pão, o azeite (que foi trazido pelo árabe para a Península Ibérica), o porco e a feijoada.

É interessante observarmos que no Brasil não há senão raros restaurantes portugueses. Encontramos restaurantes de várias culinárias do mundo, mas propriamente da portuguesa, é muito difícil. E não poderia ser diferente: o que é português aqui foi adaptado, de forma que essa simbiose alimentar luso-brasileira, aqui no Brasil finda por encobrir sua origem lusa. Como nos fala o Mestre Cascudo: o que não era brasileiro e veio de Portugal, tornou-se brasileiro pelo uso normal.

Como exemplos a feijoada e o porco. O bacalhau e o azeite não tiveram muita entrada por aqui. No caso do bacalhau, devido ao alto preço do produto, é consumido em épocas específicas, como Páscoa ou Ano-Novo. Mas o azeite, que em Portugal é alimento popular, no Brasil é elitista.