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O que o tempo não leva?

Na efemeridade do tempo, o hoje relevantemente notório está fadado ao esquecimento, filosofa autor baiano, um dos mais lidos colaboradores da Navegos

Elicio Santos do Nascimento

Neste mundo, não há nada que resista ao tempo. O grande ditador ou o pacifista ganhador do Prêmio Nobel. A bela jovem que encanta o mundo. O homem mais feio de que se teve notícia. O campeão mundial. O grande perdedor. Todos se tornam o chão por onde o tempo crava a sua trajetória indiferente. O moço aceso de hoje será o velho apagado de amanhã. A notícia fresca, do instante em ebulição, será a História em algum livro esquecido na estante. O livro folheado será matéria de museu. A humanidade será o museu de si mesma. Nada resiste ao poder indestrutível do tempo. Nada mesmo? Parei a minha escrita num sobressalto da memória.

Lembrei-me dos meus filhos e das claras escuridões que vivemos juntos. O olhar da boa mãe nos abençoava, enquanto brincávamos de algo absolutamente inútil, dados ao nada que nos era tudo, como num infinito particular. Bem, talvez haja coisas que o tempo não leva.

Elicio Santos do Nascimento, advogado, servidor público municipal em Ilhéus (BA), colunista das revistas “Avessa” e “Ema” e colaborador dos sites Philos, Recanto das Letras e Ilhéus.Net, é autor dos livros “Fábrica de Sentidos” (Leia Livros; 214 págs.; 2017), “O Porquê das Coisas” (Leia Livros; 80 págs.; 2016), “Contos Urbanos” (Redondezas Contos; 44 págs.; 2014), dentre outros.

SURREALISMO “A Persistência da Memória”, do artista visual espanhol Salvador Dalí (1904-1989); a obra, produzida em 1931 e que pertence à coleção do Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York, foi pintada em apenas cinco horas, enquanto sua mulher, Gala, e amigos foram ao cinema; no quadro, apenas um relógio não está distorcido e não tem ponteiros – e o tempo não existe – é o de baixo, à esq., cujas formigas simbolizam a putrefação, a transformação da vida e das coisas