• search
  • Entrar — Criar Conta

O Realismo do Absurdo (Editorial, 12/07/2023)

Bem-vindos à edição de hoje, 12 de julho de 2023, de Navegos, sua revista eletrônica independente, a serviço da informação descentralizada, da crítica e do entretenimento. Boas leituras!

*Da Redação

[email protected]

Entidades representantes do setor de Segurança Pública do RN, através do Fórum de Segurança (Foseg) se posicionaram contra a criação do Sistema Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Estado. Segundo essas críticas, esse projeto facilitaria a atuação de facções criminosas no Rio Grande do Norte.

Ao todo, integram o Foseg o Sindicato dos Policiais Penais (Sindppen-RN), Sindicato de Policiais Civis (Sinpol-RN), Associação dos Delegados de Polícia Civil (Adepol-RN), Assep-RN e Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar (ACS-PMRN). O presidente da ACS-PMRN, Carlos Cortez, diz que a entidade leu o projeto.  “Esse projeto fere a segurança pública e vai trazer o caos para Polícia Penal, Polícia Civil e Polícia Militar”, destaca.

Seria essa medida do governo Fátima Bezerra parte das promessas que, supostamente, segundo noticiado à época dos ataques que uma facção criminosa perpetrou no estado, em março do corrente ano, ela teria feito ao crime organizado? Se as entidades que representam o setor de segurança estão com o pé atrás, logo, a população potiguar também precisa desconfiar.

Sobre criminalidade, um oportuno texto de Percival Puggina, abaixo:

O Realismo do Absurdo

Na nossa história recente, o criminoso que aflige a sociedade é amplamente protegido por um certo garantismo penal que se generalizou no Judiciário. Estranhamente, porém, o mesmo garantismo não se aplica ao cidadão que se manifesta, pacificamente, de um modo que desagrada o Estado.

No Brasil, nada é mais realista do que o completo absurdo, caro leitor. Nesta terra de bandido solto, com mandato, decidindo sobre nossas vidas e acesso aos recursos públicos, disparate é a sensatez! Mais dia, menos dia, vamos colocar tornozeleira na Polícia, algemar os promotores e estabelecer quota máxima de sentenças condenatórias por magistrado. Excedo-me na ironia?

Toda vez que passo na rua por um desses pobres catadores de papel que, como se fossem animais de tração, puxam as próprias cargas para os locais de reciclagem, me vem à mente a questão da criminalidade. A mesa do catador é escassa, o agasalho pouco, a habitação precária, a vila não é salubre e o trabalho duríssimo. Ao lado, bem perto, operam traficantes e suas redes. Têm do bom e do melhor. Mas ele segue puxando seus fardos e contando centavos porque prefere ganhar a vida trabalhando. Combater a criminalidade, agilizar os processos, eliminar a impunidade e endurecer as penas é sinal de respeito a essa referência moral emergente no país! É por ele, pelo catador de papel, que escrevo este artigo. E também porque sou portador de uma anomalia que me faz ser a favor da sociedade, desconfiar do Estado e me opor à bandidagem.

No entanto, a cada dia, aumenta o número daqueles que estendem o dedo duro para nós, o povo, indigitando-nos como principais culpados pelos males que a insegurança nos impõe. Nós, você e eu, leitor, seríamos vítimas da nossa própria perversidade e os grandes responsáveis, tanto pela situação do papeleiro quanto pela opção do traficante, do ladrão, do assaltante, do homicida e até dos corruptos porque muitos de nós os elegem, sabendo ou não sabendo. Por isso, falando em nome de muitos, de poucos ou apenas no meu próprio, gostaria de conhecer a natureza do delito que nos imputam, dado que estamos sendo novamente desarmados pelas exigências que cercam a posse de qualquer arma, encarcerados por grades de proteção e temos as mãos contidas pelas algemas da impotência cívica. Nós só queremos que nos permitam progressão para o semiaberto, puxa vida!

Nessa edição de Navegos, os colunistas e seções (clique nos nomes para ir direto ao artigo): José Vanilson Julião, Edek Kowalewski, Alexsandro Alves, Calle del Orco e Rua dos Vivos. Desfrutem.