*Valterlucio Campelo
A semana na grande mídia foi do Sérgio Moro, o ex-Juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro, de onde saiu feito pato, sem nenhum cuidado sobre onde solta as fezes. Em poucos dias, estava buscando conforto no “cafofo” dos inimigos do governo.
Confesso que no primeiro momento achei que poderia haver razões legítimas para o pedido de demissão, mesmo que no meio de uma guerra, signifique deserção. Se a causa fosse justa, sairia grande.
Por aqueles dias, as coisas ainda estavam muito nebulosas, quem sabe haveria boas razões para a saída súbita. Não havia. Como sempre, o tempo, senhor da razão, revelou o homúnculo que se escondeu na toga durante anos, tratado a pão de ló pela imprensa e pela sociedade que nele via um herói contra a corrupção.
A seu favor, o empenho em enfrentar como nunca antes o andar de cima da política e empresariado brasileiros. A Lava Jato ganhou os corações das pessoas honestas, do brasileiro comum que paga as contas, que se indigna sem entender, como homens alcançam tal poder que “ganham” repentinamente o que ele nem sonha em ganhar em toda sua vida de trabalho árduo. Moro era nosso “herói”.
Não apenas por desnudar a bandalheira que cobria o PT dos pés à cabeça, nem por botar na cadeia o chefe do bando, mas, principalmente, porque parecia um alento, uma brisa de esperança. O povo pretendia que Moro tivesse a sua cara. Não tem.
Infelizmente, como ficou demonstrado, Sérgio Moro é apenas um sonso, um carreirista que vendo frustrar-se o seu propósito de ter uma cadeira no STF, não pensou duas vezes. Pulou para outro projeto, o de ser Presidente da República, independentemente de ter qualquer vocação ou de apresentar qualquer projeto, mínimo que seja para o país. Pensa, talvez, que a presidência é um cavalo passando encilhado. Para não perder a viagem, quer eleger a esposa como deputada federal.
A grande mídia, que durante três anos inflou e secou balões, indo do Mandetta “fique em casa até a falta de ar” ao animador de auditório, enfim tem o seu candidato para o Nem Lula porque é ladrão, Nem Bolsonaro porque é conservador. Ciro Gomes não serve porque é indomável, não inspira confiança no Sistema. A extrema esquerda não tem chances eleitorais, os tucanos idem. Enfim, vai que é tua Moro!
Vai? Não se sabe. Até aqui o que vemos é um candidato sem carisma e sem projeto. Todos os seus discursos são uma espécie de pastel de vento. Pode ser quentinho, ter boa aparência, mas lá dentro, nada.
Palavras surradas como “justiça social” ou estalando de novas como “economia verde” saem de sua boca como sairia da boca de um militante do DCE, com a diferença de que este pelo menos acredita nas bobagens que diz. Moro, nem isso. Seu discurso de combate à corrupção foi esvaziado pelo STF que soltou o chefe e mais uma penca de condenados, enfim, o juiz perdeu o timing. Economia? Adotou o “posto Ipiranga” que serviu a Maluf e entregou o Banco Central com inflação em incríveis 239% a.a. em 1985.
É um vazio de ideias e um zero de solidez política. Penso que é daquele que só tipo brinca no tablet, mas teima em descer pro parquinho. A política não é para amadores, já disse alguém. Moro terá que enfrentar, de um lado, o lulopetismo que o odeia como perseguidor e injusto e, de outro, o conservadorismo que o despreza como a um covarde arregão.
Interessante que, ideologicamente, Moro está mais próximo daqueles que combateu do que daquele a quem serviu como Ministro. Sua inclinação ao politicamente correto é de fazer inveja à turma do Projaquistão. Suas entrevistas e as análises das TV ‘s são pródigas em concessões e mensagens ao eleitorado progressista, os comentaristas abraçam seus argumentos rasos, diga-se, como se fossem profundas elaborações filosóficas.
Com a formação que tem poderia ao menos se contrapor à perseguição que sofre a liberdade de expressão, poderia acusar o retrocesso no STF e seu ativismo judicial manco. Nada. Moro é o que a imprensa espera que seja, um Nem Nem perfumado e limpo. Enfim, eis o homem da “terceira via”.
Como dizem os entendidos, é cedo para se fazer bons prognósticos, afinal, tem aquela história das nuvens. Uma hora tá assim, depois fica assado.
Nunca se sabe o que pode acontecer. E tem a pandemia, que não dá sossego nem aos vacinados, que mesmo picados duas vezes podem ser receptores e transmissores da peste.
Por enquanto, prefiro acreditar que a polarização está dada. Teremos que escolher novamente entre o ladrão e o capitão.