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O romancista questiona o mundo

“Sempre tomo muito cuidado com as palavras pessimismo e otimismo . Um romance não afirma nada: um romance procura e levanta questões.”

*Milan Kundera

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Sempre tomo muito cuidado com as palavras pessimismo e otimismo . Um romance não afirma nada: um romance procura e levanta questões. Não sei se minha nação perecerá e não sei qual dos meus personagens está certo. Invento histórias, coloco-as frente a frente e, através deste procedimento, faço as perguntas. A estupidez das pessoas vem de ter resposta para tudo. A sabedoria do romance vem de ter perguntas para tudo. Quando Dom Quixote sai pelo mundo, isso se torna um mistério diante de seus olhos. Tal é o legado do primeiro romance europeu para toda a história do romance que veio depois. O romancista ensina o leitor a apreender o mundo como uma questão. Há sabedoria e tolerância nesta atitude. Num mundo construído sobre verdades sacrossantas, o romance está morto. O mundo totalitário, seja baseado em Marx, no Islão ou em qualquer outro fundamento, é um mundo de respostas, e não de perguntas. O romance não tem lugar nele. Em todo o caso, parece-me que hoje, em todo o mundo, as pessoas preferem julgar a compreender, responder a perguntar. Assim, a voz do romance mal pode ser ouvida no tolo barulho das certezas humanas.

 

Conversa entre Philip Roth e Milan Kundera
Londres e Connecticut, 1980