*Franklin Jorge
A gravura caiu em declínio, mas ainda há um maître graveur, nascido em Macaíba, já nonagenário. Rossini Quintas Perez é talvez o último grande gravador vivo, que desejava doar seu acervo ao Rio Grande do Norte. O visitamos, o prefeito Carlos Eduardo Alves, o secretário de entretenimentos e eu, em seu curioso apartamento da Gastão Bahiana 58, onde havia, além de sua obra, suas lembranças da África, continente que amou como se fora ali nascido. Foi uma conversa animada que não deu em nada.
À tarde desse dia visitamos a diretoria do Museu Nacional de Belas Artes, para tratar do empréstimo de mais de uma centena de obras doadas por Rossini ao acervo da instituição que no momento, sob a gestão do PT corre riscos. Perdeu mais da metade do pessoal de apoio. Várias galerias estavam fechadas, com infiltrações, por falta de investimentos do governo. Fomos tratar da mostra da coleção de Rossini, pertencente ao Museu. Era mais um projeto da Sala Natal, que pretendia criar um parâmetro de gestão cultural moderno e interativo.
O museu nos recebeu bem e colaborou com o nosso entusiasmo, que era somente entusiasmo. E propus-lhes que a mostra pudesse constituir um padrão a ser considerado doravante pela Funcarte. Teríamos, já que a gravura lida com o papel, de promover oficinas de restauro de papel, manuseio e armazenagem de obras segundo as normas técnicas internacionais, posto que Natal tem uma vocação inata para o cosmopolitismo. Pensamos qualificar profissionais aptos a montar exposições profissionalmente e lidar com papéis com o necessário savoir faire. Saber fazer é necessário, como sabemos, menos para Dácio, brocoió que posa de intelectual sério, para enganar trouxas, como Candinha Bezerra, o ex e o atual prefeito Álvaro Dias, de reconhecido gosto duvidoso para as artes.
Nessa visita à diretora do museu, a sra. Xexéo e sua equipe técnica, as ideias foram surgiram diante de um secretário de boca fechada, para não demonstrar o tamanho de sua ignorância diante de pessoas escoladas no trato das artes, como aquelas com as quais discutíamos. Não entendia nada nem fazia algum esforço para aprender. Tudo nele é falta de respeito pelo outro e arrogância em demasia.
Rossini pensara, a princípio, doar seu acervo à Pinacoteca do Estado que fundei em 1983, mas percebeu que não havia condições mínimas de conservação. Seria e continua sendo somente um depósito de quadros a se deteriorar diante da indiferença de seres como Dácio, Isaura Rosado e Roberto Lima, compositor de uma nota só, como se fez notório.
A impressão que tínhamos: em 15 ou 20 anos como gestor cultural, Dácio não aprendera nada. Desconhecia as coisas mais comezinhas de seu ofício, como a montagem de uma exposição. Estamos efetivamente mal. Gente como Dácio emperra o progresso, mantém-nos à margem de tudo. Sem visão, fácil de contentar-se, faz o mesmo escaldado de sempre. Uma lavagem para quem não tem paladar nem exigências.
Essa exposição de gravuras e matrizes de Rossini constituiria um processo de aprendizado. Aprenderíamos a montar uma exposição dentro das regras, segundo oficinas ministradas por professores do Museu Nacional de Belas Artes, coisa que não interessaria a Dácio e ele o boicotou.
Paralelamente promoveríamos uma segunda exposição de trabalhos de Rossini, suas fotografias inspiradas nas calçadas de Natal que sobraram da sua mocidade n uma Natal ainda provinciana. Teríamos oficinas de fotografia ministrada por Rossini e outros fotógrafos, numa confraternização viva que morreu no próprio nascedouro. Tudo porque a ideia não saíra da cachola do nosso ridículo e narcisista secretário de cultura.