• search
  • Entrar — Criar Conta

O São João Já Era

Nadja Lira, jornalista, pedagoga, filósofa, comenta sobre as modificações modernas introduzidas nas comemorações juninas. Mudanças tais que descaracterizam o São João tal e qual amamos, mas que a cada ano que passa, se mostram mais fortes.

*Nadja Lira

[email protected]

A festa em homenagem a São João que se vê na atualidade em nada lembra os festejos antigos, onde se respeitava a tradição deixada por nossos avós. A festa era comemorada com quadrilhas, fogueiras, comidas típicas e músicas semelhantes, ou seja, o autêntico forró pé-de-serra tocado por sanfoneiros famosos no cenário da música nordestina, como Luiz Gonzaga, por exemplo.  Em Baixa-Verde, cidade onde passei a minha infância, uma grande quadrilha era realizada no Centro da cidade arrancando muitos aplausos e risadas do público, motivadas pela encenação do “casamento na roça”.

As ruas ficavam tomadas pelas fogueiras, enquanto as crianças, felizes, estouravam chumbinho nas calçadas, sob o olhar atento e cuidadoso dos pais. Cresci ouvindo as pessoas falarem sobre o meu avô, Sebastião Dodô, que segundo os mais velhos, andava sobre as fogueiras, sem queimar os pés. Eu não tive a oportunidade de presenciar tal feito, porque convivi com meu avô já velho e doente. Contudo, tanto os meus pais como os tios, asseguram que tal proeza era verdade verdadeira.

O São João da atualidade em nada lembra as festas de antigamente. As ruas já não são tomadas pelas fogueiras por diversas razões. A principal delas diz respeito à preservação da natureza. Para fazer fogueira é necessário cortar árvores para a retirada da madeira, o que se constitui em crime ambiental. Além disso, a fumaça incomoda e provoca irritação nos olhos e garganta, fazendo com que as pessoas procurem atendimento nos postos de saúde sempre superlotados, para cuidar de alergias e problemas respiratórios. E isto sem contar os acidentes provocados pela queima de fogos.

Quem participou das festas de São João de outrora, jamais se acostumará com isto que se vê na atualidade. As festas juninas perderam sua principal característica: O respeito às tradições. Festa de São João precisa ter música nordestina: xote, xaxado, baião e assemelhados. A época também pede as comidas tradicionais como canjica, pamonha, arroz doce e bolo pé-de-moleque, entre outras.

Como se não bastassem os absurdos aos quais somos submetidos, onde valores tradicionais como Deus, Pátria, Família e Liberdade são vilipendiados, somos obrigados a ver festa de São João apresentando artistas, cujas músicas nada têm a ver com os ritos, costumes e hábitos do povo nordestino.

Nada contra os artistas que cantam axé music e ritmos sertanejos. Mas eles são como peixes fora d’água em festejos juninos. Estão fora do seu quadrado e, portanto, não combinam de jeito nenhum. Retirar das festas juninas suas principais características como a música, por exemplo, é acabar de vez com as nossas tradições. Não dá para imaginar que durante o Carnaval, uma banda vai tocar boleros, valsas e tangos. Tudo fora do lugar. Afinal, Festa de São João que se preza, precisa ter todos os ingredientes da nossa tradição e a música é um destes ingredientes indispensáveis.

As festas juninas são de grande importância para a preservação da cultura nordestina e brasileira, logo, é um momento para fortalecer a identidade e o orgulho de um povo através do respeito às suas tradições. Não podemos abrir mão destes valores, porque desse modo, acabaremos esquecendo a nossa própria história.

Bruno e Marrone, Gustavo Lima e Bel Marques não combinam com festa de São João, onde a tradição exibe figuras matutas e caipiras usando vestidos coloridos, camisas xadrez, lenços e chapéus de palha. Tudo isto sem contar as famosas adivinhações e as simpatias amorosas, que marcam a noite de São João. Se continuarem a descontruir estes festejos, o São João já era. Vai acabar sendo transformado em mera lembrança como já acontece com os pastoris.