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O sonho não acabará

A sinalização de virtude de uma geração mimada agora cancela Neil Gaiman!

*Alexsandro Alves

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Quando eu tinha meus 14 anos, lá para o ano de 1989, minha maior preocupação era ler a edição de Sandman, publicada pela Editora Globo a partir das edições americanas da DC Comics. Sandman é o personagem que todo escritor deseja criar: um ser que controla os sonhos e os pesadelos, é o pai da inspiração de poetas, compositores, o gênio por trás dos filósofos! Ao longo de 75 edições e vários especiais, Sandman se encontra com Lúcifer, com anjos, com Shakespeare, com Tibério e uma infinidade de grandes homens históricos e mitológicos. Seu criador, o britânico Neil Gaiman, faz parte da grande trindade dos quadrinhos modernos, ao lado de Grant Morrison e Alan Moore.

Mas agora estão querendo a sua cabeça. Casos de amor do passado do escritor resolveram abrir suas bocas em busca da fama que a Internet concede para quem executar o plano mais diabólico possível. As redes vivem de sangue de inocente. Nesse caso, Gaiman está sendo acusado de violência sexual, só para variar, não é? E. lógico, a Internet, cheia de gente perfeita e munida dos mais singelos e verdadeiros sentimentos, resolveu cancelá-lo. Afinal, essa geração, senhora das virtudes e dos mais altos louvores e dádivas cristãs, precisa sempre de um bode expiatório para suas culpas e frustrações enterradas a sete palmos em sua alma. Os alto pudores dessa galera inconsequente, mimada e esquizofrênica não suporta a vida real com suas dificuldades e contradições.

Essa geração quer para o outro, por ser também sádica, o que ela mesma não é e jamais será: a santidade de seus ídolos! Se o ídolo não corresponder a todos os pontos da canonização, tudo estará no lixo, principalmente se for artista. Primeiro: o artista não deve nada ao humano; isso esses cretinos não querem aceitar! Segundo, quando não está criando, o artista tem todo o direito de ser humano, com todos os seus vícios! Terceiro, a obra de arte é maior que seu criador. Essa falta de percepção dessa geração se explica pelo fato de que não entendem nada de arte e de colocarem a arte em segundo plano ou mesmo em terceiro ou quinto plano! Essa geração não leva a sério questões estéticas. Ela as contaminou de uma política de sinalização de virtude doentia e perversa.

Ser artista, hoje, é ser santo!

Eu acredito na inocência de Neil Gaiman. Mesmo que sejam verdade as alegações de disforias e transtornos, há, por exemplo, uma mulher que afirma que foi forçada a engolir fezes de Gaiman, ninguém tem nada a ver com as formas pelos quais cada indivíduo busca se satisfazer sexualmente; seja com fezes, seja com urina, seja com esperma, não importa. Isso é do casal e precisa ser respeitado e nunca exposto. Eu acredito que essas mulheres possuam o mesmo grau de perversão que acusam Gaiman, estou querendo dizer que elas fizeram porque também queriam, assim como Gaiman. Nada foi forçado. Mas agora, desejando fama, alegam que foram forçadas a tais atos. Depois de tanto tempo!

De forma nenhuma! Deveriam investigar se essas mulheres não se tornaram evangélicas. Com esse transtorno religioso, elas podem desejar reinterpretar sua vida passada através das lentes dessa religião. Assim, o que era prazer, se torna pecado; e, para aumentar o cinismo, um pecado não desejado, mas forçado. Certa vez eu estava em um culto evangélico da Assembleia de Deus e uma mulher foi prestar testemunho! Pois bem. A dita pegou o microfone e iniciou uma viagem por sua vida sexual, uma vida sexual feliz! Mas que coma conversão, se tornou objeto de seu ódio, e, claro, a culpa era do Satanás. Uma das coisas que ouvi, foi que ela era estuprada por uma imagem de um santo que ela possuía em casa. À noite, a imagem ganhava vida e a possuía!

Nada disso! Se chama agalmatofilia. É a atração por objetos inanimados. Sem dúvida, na minha mente maliciosa, pensei: “essa madame simplesmente agarra a escultura à noite, a beija, a esfrega em sua vagina, goza e agora vem com essa!” A Assembleia de Deus é uma maldição contra o desejo. Quem sabe se não é isso o que ocorre agora com Gaiman? Mas o mais perverso mesmo é a inquisição e o tribunal da Internet, que já o condenou, assim como condenou Sílvio Almeida e tantos homens valorosos sem a mínima prova objetiva, apenas pelas falas das acusadoras – e nesses tempos, não é de quem acusa om ônus da prova, ao contrário, é o acusado que tem que provar que não é culpado, mas antes que prove, o tribunal das redes socias e da Internet já o condenou.