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O Wotan operístico

Colaborador de Navegos celebra o mais glorioso dos mitos germânicos, cujo nome se confunde com a história da ópera ocidental.

*Francisco Alexandro Soares Alves

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Com o Festival Wagner, em Bayreuth, ocorrendo até a primeira semana de setembro, além dos artigos que tradicionalmente escrevo em Navegos, aproveitarei esse ensejo do festival para escrever algumas curiosidades sobre ele, sobre o teatro e sobre o Mestre de Bayreuth (Richard Wagner).

Esse festival, assim como o teatro, quase que foram construídos aqui, no Brasil, mais especificamente na então capital do império, o Rio de Janeiro. Dom Pedro II era um admirador ardente da obra wagneriana e seu nome está ligado à história do compositor de duas maneiras.

A primeira delas, através de um convite feito a Wagner para que este viajasse ao Brasil e estreasse uma obra inédita no Teatro de Ópera Imperial, do Rio de Janeiro. Essa proposta inquietou Wagner por meses a fio. Em uma carta a Franz Liszt, datada de 08 de maio de 1857, lemos: “O Imperador do Brasil acaba de convidar-me para ir ao Rio de Janeiro. Há promessas de maravilhas. Assim, irei para o Rio de Janeiro e não para Weimar”. Em outra carta, também para Liszt, de 26 de junho: “Tenho um projeto interessante acerca de ‘Tristão e Isolda’. Penso na versão em italiano. E oferecerei essa obra para o Rio de Janeiro. Será precedida pelo ‘Tannhaüser’. E a dedicarei ao Imperador do Brasil.” Todavia, nesse período, Ludwig II torna-se rei da Baviera e resolve trazer Wagner para seu convívio. Assim, nem Rio de Janeiro nem Weimar, mas a Baviera.

O fascínio de Dom Pedro II por Wagner permaneceria inalterado. Quando Wagner decide construir a Casa dos Festivais na cidade bávara de Bayreuth, surge a segunda intervenção do Imperador do Brasil na vida do alemão: Dom Pedro II foi uma das principais figuras internacionais que investiu na construção do teatro. Em 13 de agosto de 1876, data da inauguração do teatro, Dom Pedro II foi recebido pessoalmente por Wagner e, segundo testemunhos da época, saiu do festival tomado pelo espírito estético de Bayreuth. Lembrando da época em que convidara o compositor para o Rio, Dom Pedro II gostava de dizer que: “O Rio de Janeiro não compreenderia essa música. Estamos habituados apenas à ópera italiana. Toda essa novidade que ouvimos e vimos aqui em Bayreuth seria de grande estranhamento para o Império.”

De fato. Porque em 19 de setembro de 1883, a Ópera Imperial do Rio de Janeiro estreia “Lohengrin”, a última obra da segunda fase criativa de Wagner e os jornais da época estampavam: “as melodias de Wagner parecem ter fatigado o público, pois ele se manteve muito frio”. Outras críticas fazem referência à longa duração da obra: três horas e meia, o que na prática, fez o público permanecer quatro horas e meia no teatro, por conta dos intervalos. Geralmente, como o público estava habituado aos italianos, o espetáculo, já com os intervalos, duraria 150 minutos, três horas no máximo. Em um futuro próximo, a capital do Império seria palco de uma grande controversa wagneriana, de caráter internacional. Mas isso fica para um próximo artigo.