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Ódio de classe separa e oprime

Colaborador de Navegos, escritor e poeta reflete sobre a pedagogia da exclusão cultural imposta em tratados e estudos sociológicos de viés esquerdista e nos faz ver que as grandes obras classificadas como produto de uma cultura de elite foi criada em geral negros e pobres.

*Francisco Alexsandro Alves

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Na página 79 do livro didático “Sociologia em Movimento”, da Editora Moderna, triênio 2018, 2019, 2020, lemos uma definição de cultura de elite e outra de cultura popular. Segundo o texto, cultura de elite é aquela feita para a elite e que manifesta sua visão de mundo. No decorrer do texto notamos um ranço contra essa assim denominada cultura de elite.

Afinal, o que é cultura de elite? Não apenas sua definição, mas também sua nomenclatura separam a maioria dos indivíduos dessa forma de cultura, no Brasil. Por aqui, há determinadas manifestações artísticas aos quais os sabichões políticos precisam e desejam proibir o povo de consumi-las. Em outras palavras, separar a cultura dessa forma é ideológico. Paulo Freire sugere, nas entrelinhas de seu livro, “Pedagogia do Oprimido” que Beethoven não é para o povo, por quê?

Ódio de classe.

Porém a situação poderia ser apenas trágica, porém é tragicômica. Tomemos o Brasil e os “autores de elite”. Machado de Assis. Lima Barreto. Capistrano de Abreu. Villa-Lobos. Apenas alguns nomes. Mas nesses já percebemos negros favelados, bêbados e pobres. Além disso, Villa-Lobos aprendeu música subindo os morros cariocas. E produziram a chamada cultura de elite. A tão odiada e zombada, a tão esquecida e desvalorizada cultura de elite. Que não é para o povo, porque expressa a visão de mundo da classe dominante. Pura ideologia.

A nata de nossa cultura é de obras produzidas por pobres, negros, bêbados. Estes indivíduos produziram obras de alto nível emocional e estético. Porém hoje são menosprezados como algo classista. Sabem quando a elite fez algo que marcou a nossa cultura? Na famigerada Semana de 22, quando, pela liderança de Oswald de Andrade, filhinho mimado da elite paulistana, houve a tentativa de destruir o legado cultural brasileiro em troca de falsas leituras étnicas ensaboadas com sabão iluminista francês. E mesmo os filhos dessa elite que produziram algo de valor estético, não o fizeram apenas para a sua classe.

Mas para a inteligência brasileira, isso é nocivo, posto que elitista. No entanto, é essa forma de arte que constrói o humano, que lhe dá formação, a “Bildung” alemã. As grandes aspirações desses grandes artistas que ecoam solenemente na alma de quem está preparado para recebê-las. Cultura de elite, no Reino Unido, é chamada de “High Culture”, Alta Cultura. Prefiro assim. E muito de nossa Alta Cultura é obra de pobres. De pessoas das chamadas “classes dominadas”, não é um doce como a nossa realidade olha atravessado para certas ideologias tolas?

Aqui mesmo no Rio Grande do Norte, se prestarmos atenção em nossa elite social e política, veremos que é até um desaforo denominarmos o que produzimos de cultura de elite. Jamais será. Para eles o Carnatal, o sertanejo e a novela da Rede Globo.

Ainda verei o dia em que a Alta Cultura retornará à convivência do povo, porque esse projeto de impedir o cidadão de valorizar as nossas grandes obras é político. Faz parte da tentativa de impedir o crescimento cultural do povo. De um lado, impedem sorrateiramente a aproximação popular da Alta Cultura, por outro, também não valorizam a chamada cultura popular: benesses políticas em datas específicas é apenas esmola. Falar do coco de roda, do boi bumbá, do reisado, enquanto seus criadores mendigam o ano inteiro e só têm visibilidade no Dia do Folclore, é zombaria.