*Rafael Falcon
Olavo propunha a personalidade humana como obra-prima da filosofia. Ao persuadir com palavras, ele causava impressão, pois era um grande escritor. Porém, sua verdadeira força não era o estilo; era a sua própria personalidade, que encarnava e comprovava sua visão filosófica.
Se Olavo conseguiu tornar atraente a ideia de vida intelectual, foi meramente porque afirmava que por esse caminho seríamos semelhantes a ele. O que todos queriam, no fundo, era uma personalidade como a sua.
Infelizmente, muitos se iludiram pensando que ler uma lista de obras ou posar em público lhes daria uma personalidade. Foram enganados pelo estilo, e perderam de vista o homem. Talvez não quisessem admitir que o que realmente os atraía era o próprio Olavo, e não uma ideia.
Não, não foram as ideias de Olavo que marcaram esta geração: foi a pessoa dele. Jovens que até então se viam acorrentados a visões mesquinhas da vida humana de repente perceberam que era possível sacudir aquele jugo pesado e ser algo mais.
Embora a teoria dos quatro discursos e o intuicionismo radical sejam mais interessantes do que tudo o que eu ouvi na faculdade, o fato é que não tocam o coração de ninguém, porque são apenas ideias. Ótimas ideias; riquíssimas ideias. Mas apenas ideias.
Ora, ali estava um homem que, quando falava de Kant ou Descartes, não estava contando créditos e fazendo fichamentos. Ele se interessava por esses autores porque seu assunto era para ele caso de vida e morte. Foi o primeiro e último que vi falar de filosofia assim.
Enquanto os demais se acomodavam em carreiras vazias e, nos domingos, davam pipoca aos macacos, ele perdia um emprego após o outro porque se recusava a aceitar a mordaça do Foro de SP. Se lhe parecia importante, ele falava de tudo, mesmo que por isso ganhasse fama de louco.
Ele não nos oferecia ideias novas todos os dias, não; nem propunha sistemas complexos para explicar o universo. Mas a cada artigo, a cada aula, ele nos fazia repensar o que antes parecia óbvio; o modo de pensar, mas principalmente o de viver.