*Reynivaldo Brito
“Qualquer coisa que vocês façam contra a sua preservação e o bom funcionamento, me faz sofrer como se fosse atingida pessoalmente”. Frase de Elyette Guimarães de Magalhães, idealizadora do Museu da Cidade do Salvador. Ela faleceu no dia 20 de agosto de 2017.
Vivemos numa Cidade rica em História e Cultura porém seus gestores – tanto do Estado quanto da Prefeitura – ao invés de incentivar e promover os mais significativos movimentos culturais e seu patrimônio histórico e cultural os colocam em segundo plano. Focam no Carnaval, que é uma festa que dá a eles visibilidade, e enganam o povo. É o que os cientistas políticos costumam chamar de “circo”. Observe que ano após ano o número de dias dedicados ao Carnaval só aumenta, invadindo até a Semana Santa, antes guardada com muito respeito pelos católicos. Os investimentos são vultuosos e sempre dão a desculpa que é patrocínio da empresa privada. Por quê não arranjam patrocínio para os eventos culturais, a manutenção e compra de novas obras para os museus? Simplesmente, porque isto não dá muita visibilidade e votos. Preferem que o povo fique cada vez mais inculto e tome-lhe circo. Hora de balançar a bunda!
Catálogo de inauguração do Museu da Cidade.
Fiz esta introdução para falar de um absurdo cometido pelo Prefeito ACM Neto que foi o fechamento do Museu da Cidade do Salvador, localizado no coração do Centro Histórico, que é o Largo do Pelourinho, naquele tradicional casarão amarelo, que fica colado com outro ocupado pela Casa de Jorge Amado, de cor azul.
O Museu da Cidade do Salvador está fechado desde a primeira administração do atual prefeito sob a alegação que iria sofrer uma reforma – e ninguém sabe por onde anda seu rico acervo e como está sendo conservado. Procurei alguma nota pública no site da Fundação Gregório de Mattos ou mesmo em várias publicações sobre este absurdo, e só encontrei reclamação de turistas que se dirigiram ao Museu e encontraram as portas lacradas sem qualquer aviso, inclusive as existentes nas redes sociais. Coisas dos péssimos gestores que hoje comandam o nosso Estado.
Olhe que o Museu continua nos guias dedicados ao turismo como está em funcionamento. Nem este cuidado eles têm de informar ao público para evitar constrangimento e frustração.
O que queremos saber é onde está o rico acervo deste museu que foi reunido com dedicação e esmero, por sinal por uma mulher dinâmica casada com Jaime Magalhães, um dos irmãos do avô do ACM Neto, a saudosa Elyette de Guimarães Magalhães, que veio a falecer em 20 de agosto de 2017, com o museu já lacrado.
Este Museu da Cidade do Salvador tinha um rico acervo ao qual se poderia ter acrescentado muitos outros objetos e obras de arte de valor histórico e cultural, no decorrer dos anos, após sua fundação. Mas, como diz um blog conhecido “a Bahia é a terra do já teve”, os que a administram tratam de destruir o que que bom encontram pela frente. Isto vem acontecendo com este museu, que se propunha a contar a História da Cidade através de objetos que pertenceram a grandes baianos como Castro Alves, esculturas, pinturas, trajes de Orixás e adereços de prata e ouro usados no período Colonial. No acervo constam obras de Presciliano Silva, Mendonça Filho ,Alberto Valença , Henrique Oswald, João Alves, Geraldo Rocha, Caribé, Jenner Augusto, Carlos Bastos ,esculturas de Agnaldo Silva, joias do joalheiro e etnógrafo Waldeloir Rego, e da artista Liane Katsuki, hoje morando na Holanda; coleção de bonecas de pano, mostrando como brincavam as crianças na Salvador colonial, tradição está ainda hoje presente no interior do Estado. Portanto, encontrávamos por lá uma série de obras e objetos importantes reunindo manifestações sagradas e profanas. Lembro do dia da inauguração em 5 de julho de 1973 , e a satisfação de Elyette de Guimarães Magalhães andando de um lado para outro nos salões do Museu cumprimentando os convidados. Ela escreveu no catálogo datado de março de 1975 ” Qualquer coisa que vocês façam contra a sua preservação e o bom funcionamento [deste museu], me faz sofrer como se fosse atingida pessoalmente. Esta casa é como se fora a minha casa”.
Em setembro de 1978º a Fumcisa promoveu o I Encontro de Arte da – que era a Fundação Museu da Cidade do Salvador, que administrava o museu -, reunindo obras de dezenas de artistas. Escrevi na época em minha coluna de jornal sobre “o Encontro é organizado por Elyette Magalhães e aqui devo registrar o seu esforço em realizar exposições com certa coerência de qualidade e temporalidade”.
O desaparecimento de parte dos objetos da Coleção do poeta Castro Alves tem atualmente, provocado reações de indignação, como a da turista paulista Suellen Galhego, que foi visitar o museu em março de 2019, baseada num Guia Turístico da Cidade do Salvador. Ela encontrou o Museu fechado. Daí, fez o registro, entre muitos outros, nas redes sociais :” Fui visitar o museu, porém para minha desagradável surpresa, quando cheguei, descobri que ele foi fechado para reforma e nunca mais foi reaberto.”
Portanto, é um problema de prioridade. Preferem destinar milhões e milhões de reais para blocos e artistas milionários durante o Carnaval do que investir na Cultura e particularmente em nossos museus.
OBRAS DESAPARECIDAS
.Orixás de autoria do artista Alecy, conhecido cenógrafo.
.A Sé sob o Luar, obra de Presciliano Silva
.Máscara II, Escultura de Agnaldo Silva
.Festa Sagrada, joias de Baiana em ouro