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Opinião

Colaborador de Navegos, poeta e escritor fluminense medita sobre essa mania universal, fomentada pela relatividade de ideologias tirânicas, que faz de qualquer analfabeto funcional um escritor aclamado por militantes.

*Flávio Machado

…substituindo a voz de Elis Regina pela tatuagem de Anitta, Machado de Assis pelo Emicida, Portinari por grafiteiros, Dostoievski por Erica Leonard. [Valterlucio Campelo]

Ouvia de meu avô durante dizer sempre que a música do tempo dele era melhor do que a ouvida naqueles anos. Hoje me vejo repetindo a mesma opinião. Uso como mote o pequeno trecho de um artigo publicado no site: www.navegos.com.br, editado pelo Franklin Jorge, grande escritor potiguar.

Uso esse mote e a lembrança do comentário de meu avô para refletir. Na literatura o último grande nome foi Ferreira Gullar, após a morte do poeta não há em nossa pobre literatura nenhum outro que equivale em importância.

Passamos uma época de egocentrismos elevados. Sem que haja qualidade que sustente essa atitude. Citando Paulo Leminski: aos dezessete anos todo mundo tem espinha e é poeta. A frase retirada do documentário: Ervilha da Fantasia. Emendo que hoje todo mundo resolveu ser escritor. A facilidade de publicar tornou isso possível. E vemos desabafos e opiniões virando “poesia”.

Não há atualmente um poeta que possa ser considerado o poeta de expressão, aliás, em nenhuma expressão artística há alguém com expressão nacionalmente reconhecida. Poderão reclamar esse galardão para os decanos de nossa combalida Musica Popular Brasileira, e rebato afirmando que nada de esses decanos tem produzidos nos últimos anos.

Eu me lembro de uma fotografia antiga reunindo: Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira e Mario Quintana. Hoje tarefa impossível reunir gente com essa expressão.

Além de ouvir avaliações precipitadas que elegem alguém aos quatorze anos como grande poeta. Eu aos sessenta e dois anos, e escrevendo há cinquenta anos. Não ouso me considerar pronto, quanto mais um grande poeta.

Essa redução registrada no trecho do artigo serve de mote para essa pequena crônica. Retrata a nossa época diluída e carente de reais talentos na literatura. Um dos problemas está produção de textos que “lacrem” e tenham “muitas curtidas” e pouca reflexão.

Em outra crônica comento sobre a leitura de textos em um infindável “copia e cola” de outros tantos. Falta criatividade, parecem todos elaborados em uma máquina copiadora.

Daqui a cinquenta anos nenhum clássico literário será possível relacionar. Talvez o último movimento a tentar oxigenar esse panorama, principalmente na poesia nacional foi a chamada geração marginal (nome recusado por muitos desses poetas) dos anos 70 e 80. Relaciono alguns nomes dessa geração, talvez não pela questão formal, mas pela importância cronológica no movimento: Leila Miccolis, Nicolas Behr, Ana Cristina Cesar e Paulo Leminski. Esses provavelmente serão estudados pelos meus bisnetos. Não ouso relacionar outros nomes, correndo o risco de ser injusto nessa avaliação.

E retorno ao mote inicial prova irrefutável da queda na qualidade da expressão artística dos tempos atuais. Não há como negar essa verdade.