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“Os Animais Estão Mais Tristes” – Svetlana Alexijevich

Com sua escrita pungente, a escritora bielorrussa Svetlana Alexijevich, descortina horrores que passam encobertos, horrores de vidas sem vozes, vítimas inocentes sobre qualquer aspecto – vítimas da sobrevivência humana.

*Svetlana Alexijevich

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Na terra de Chernobyl, sente-se pena do homem. Mas os animais estão mais tristes. E eu não disse uma coisa por outra. Agora eu esclareço… O que sobrou na zona morta quando os homens marcharam? As antigas sepulturas e fossas biológicas, os chamados “cemitérios de animais”. O homem só se salva traindo o resto dos seres vivos.

Depois que a população deixou a área, unidades de soldados ou caçadores entraram nas aldeias e atiraram em todos os animais. E os cachorros chegaram ao clamor das vozes humanas… E também os gatos. E os cavalos não conseguiam entender nada. Quando nem eles nem as feras nem os pássaros eram culpados de nada, e eles morreram em silêncio, o que é algo ainda mais terrível.

Houve um tempo em que os índios do México e até os homens da Rússia pré-cristã pediam perdão aos animais e pássaros que tinham que sacrificar para se alimentar. E no antigo Egito, o animal tinha o direito de reclamar do homem. Em um dos papiros preservados em uma pirâmide pode-se ler: “Nenhuma reclamação da Bula contra N foi encontrada.” Antes de partir para o reino dos mortos, os egípcios liam uma oração que dizia: “Não ofendi nenhum animal. E eu não o privei de grãos ou grama”.

O que a experiência de Chernobyl nos deu? Ela dirigiu nosso olhar para o mundo misterioso e silencioso dos outros?

 

Svetlana Alexijevich
Vozes de Chernobyl

A escritora