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Os faróis

*Franklin Jorge

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Quarta e Sexta-feiras são dias emblemáticos na história da literatura. Não há quem, tendo algum conhecimento nesse âmbito ignore os carismas que permeiam esses dias imortalizados na obra de Marcel Proust e de Robert Louis Stevenson.

“Minhas quartas”, “na próxima quarta”, “quarta-feira”… Quem, lendo o autor de Em busca do tempo perdido não se deparou com essas expressões que parecem definir bem a burguesa francesa rica e rastaquera que recebia nesse dia em seu salão, em Paris e na cidadezinha onde curtia com dias entourage a temporada de verão?

Madame Verdurin, também chamada de a “Patroa”, melômana que numa dessas voltas que o mundo dá ascenderia à condição de princesa pelo casamento com o mais exigente representante de sua classe, sempre preso às formalidades e à observação das normas suntuárias; mulher espaventosa e grosseira,  de péssimo caráter, que vivia de rendas e recebia inexoravelmente às quartas-feiras em seu salão recebia proeminentes representantes das artes, da medicina, da filologia e de outros ramos do saber, além de aristocratas arruinados ou meramente curiosos das peculiaridades de um mundo que lhes parecia a um tempo vulgar e atraente como costumam ser as coisas mundanas que são o sal da coexistência.

Proust dedica-lhe algumas páginas e a disseca de maneira espirituosa e contundente, pois sabe que é possível responder a uma facada com outra facada, mas ri melhor quem ri primeiro. De fato, ninguém ignora que o segredo de toda a refinada arte da injúria, assim definida por Charles Baudelaire, repousa nesse raro talento que alguns têm de fazer com que os outros riam de seus desafetos. Ora, não se pode retrucar a uma gargalhada com outra, mas ri melhor quem ri primeiro…

Já Sexta-feira, nativo que se torna companheiro de um náufrago surgido do engenho e da arte de um dos maiores escritores escoceses de todos os tempos, Stevenson, que se tornaria uma espécie de escritor para escritores, pois não há grande escritor que não o admire e o cultive como um predecessor. Afinal, quem não se deixou hipnotizar pela Ilha do tesouro? Ou por O médico e o monstro? Um escritor que, além de sua obra, teve uma vida que em si já constitui uma obra digna  dum grande criador literário.

Foto: Madaleine Lamaire, animadora de um dos mais famosos salões literários de Paris, forneceu elementos para a elaboração de Madame Verdurin, uma das mais marcantes personagens de Proust.