*Alexsandro Alves
Vendo as fotos de crianças israelitas e palestinas, assim como de suas mães, suas famílias, imediatamente nos toma uma sensação de compaixão. Também nos sentimos desolados e amedrontados. Podemos perder o sono e mesmo a confiança em qualquer entidade superior (o mais racional, no mínimo, seria uma acusação contra a divindade), sabemos que, em breve, tudo ali estará em cinzas; que estarão todos mortos, que suas vidas passarão como um relâmpago para a eternidade.
Mas também podemos pensar culturalmente e não com o coração. Isso ajuda a posicionarmos as peças no tabuleiro de forma mais equilibrada – e, por fim, mesmo que seja horroroso, nos ajuda a superar e mesmo a não se importar. Qual o sentido de se preocupar com algo que você não pode mudar? E se pudesse mudar, como faria?
Aquelas pessoas, aqueles homens e mulheres e seus filhos, os israelenses (e israelitas, sobretudo) e os palestinos são inimigos a séculos, a milênios. Está no sangue deles, na memória celular, no mais profundo hábito do seu ser. Nunca mudarão.
Quando olho suas fotos atuais, em meio ao conflito eterno entre eles, sinto comiseração. Mas passa. O interessante é que passa.
Eles não sentem assim. E nós, brasileiros, nunca sentiremos algo assim.
São povos guerreiros. Desde sempre. Tanto o judeu quanto o muçulmano. Eles possuem um sentido de vida diferente e dotam a vida de um olhar mais terrível.
Eu vi um vídeo de uma criança, um garoto, de uns 10 anos. Um judeu. Ele agredia uma brasileira que pregava sobre Jesus Cristo. Ele a agredia mesmo. Não eram apenas palavras. Policiais tiveram que intervir. A protestante, não sei de que igreja, teve a brilhante ideia de fazer sua pregação em um desses dias sagrados para os judeus. Bem no centro de Jerusalém.
É assim que as crianças são educadas por lá. Elas sabem reconhecer o inimigo – e não tem conversa.
Elas crescem com sangue nos olhos.
O sofrimento e a forma de vivenciá-lo na alma também são culturais. Há povos que sabem sofrer melhor as mais duras agruras, já outros, fogem ao mínimo estalo de um tiro de um revólver.
Os povos que passaram e que passam por guerras, a educação das civilizações, conseguem ter um espírito mais forte; conseguem valorar o sofrimento, não como algo a ser evitado por medo, mas como uma forja espiritual. Aqueles povos não quebram fácil. Por isso que se formará um grande mar vermelho.
E é por isso que não consigo ver inocentes em nenhum dos dois lados.
O desejo de um é a destruição do outro.
E as fotos de sofrimento em ambos os lados, no íntimo, se vingariam de quem provocou o sofrimento, infringindo no algoz sofrimento maior. Estão assim, no mínimo, desde o século VII. Mas se fomos para a Bíblia, o tempo é imemorial.
***
Um parêntese: o que não aprecio mesmo é o cristão brasileiro pró Israel delirando: Jesus está voltando. É o fim dos tempos; ou então a versão pró Palestina, geralmente socialistas: resistência do povo palestino, Netanyahu, genocida. Sinceramente? É mais difícil sofrer o brasileiro do que os filhos de Abraão. Será que o cristão sabe que é um cidadão de quinta categoria no céu do judaísmo? Será que a esquerda mundial pensa que a Sharia foi abolida?
Ante esses, me sinto como Alberto Caeiro na estalagem, escutando um rapaz que pregava justiça social…
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
(…)