*Alexsandro Alves
Os grandes escritores, eles provocam nosso humor com pequenos detalhes em seus parágrafos, pequenas frases que paralisam a passagem do tempo e nos fazem perceber, naquele grão microscópico, quase imperceptível, que é exatamente aquele detalhe que delineia e dá importância à grande estrutura que temos em mãos.
Esses pequenos tesouros, de forma geral, não são percebidos pela inteligência desperta, precisamos nos desligar do mundo e nos ligarmos ao livro. O livro, mesmo os que falam da vida mais cotidiana, possuem um apelo em seu interior para que nos desliguemos desse mundo e através das experiências literárias, possamos retornar para casa com um novo ímpeto e com uma nova visão de mundo.
Mas nem sempre precisa ser algo dramático demais. Pode ser uma simples gargalhada conseguida com tão poucos recursos. Ainda mais se se tratar de um escritor, digamos, sisudo, como Machado de Assis.
Mas Machado possui muitas formas de humor em seus livros. Há o humor cinzento e jocoso de Brás Cubas e sua melancolia com o amor; há a ironia como ponto de flexão entre a loucura e a sanidade de Dr. Simão Bacamarte; há o humor de Bentinho!
Dom Casmurro é o romance mais bem-humorado de Machado. Desde “era a casa dos três viúvos” até às variações de ciúme de Bentinho.
Já li esse livro de várias maneiras. Como drama. Como delírio de Bentinho. E como peça de humor. Machado é um criador cheio de sadismo e não podemos levar Bentinho a sério. Comparando ele com Brás Cubas, descobrimos o valor de amar e o riso ganha novo significado. Bem fez Brás Cubas, sabia o quanto a eternidade do amor dura, e o dinheiro gasto o poupou de dores de cabeça.
Já Bentinho, essa criatura sem o mínimo amor próprio, se despedaça ante a sua Carmen oblíqua e dissimulada, vendo nela uma reencarnação de Desdêmona – sempre me pergunto o que Capitu pensa do marido.
