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Os segredos do verão

Reproduzimos abaixo texto de autoria da engenheira agrônoma, agricultora e escritora Ana Maria Primavesi, cujo centenário de nascimento transcorre este ano, extraído da coluna que escrevia para ajudar agricultores e todos aqueles que lidam com plantios. Leiamo-la!

*Ana Maria Primavesi

Agrônoma, Agricultora e Autora de livros sobre o solo.

Com o polpudo cheque no bolso, resultado da venda da safra de feijão, Nelson está tranquilo e terá uma folga para plantar outra cultura. Sem necessidade de novo financiamento, afinal, não é bom negócio pagar juros.

Mas Nelson tem d´vidas sobre o que cultivar e já perdeu a melhor época de plantio. Ele queria semear o feijão da seca, mas desistiu. Não sem razão. Nelson sente um arrepio na espinha toda vez que se lembra da intoxicação de seu filho com praguicidas. O problema é a mosca-branca. Ela se instala na arte inferior das folhas das plantas novas, protegidas do sol e dos agrotóxicos, para sugar a seiva.  E o que é pior: transmite o temível vírus do mosaico-dourado para as plantas. Daí o hábito dos agricultores de pulverizar praguecidas fortes na terra, nas sementes e nas plantas. É veneno toda semana.

O vizinho Márcio diz que o perigo de perder o feijão não é tão grande como Nelson imagina. E ensina a sua fórmula para fazer a seiva circular pelas veias das plantas entupidas pelo vírus: uma solução de 0,5% de bórax pulverizado sobre os pés de feijão doentes. Assim os grãos conseguem amadurecer, mas só os já formados. Por isso, o risco é maior para quem plantar depois de meados de janeiro.

Outra opção é fazer como o vizinho Ênio: plantar sorgo. O granífero dá uma boa colheita, maior que a de milho. E o sacarino produz muita massa para silagem, mas essa gramínea esgota muito a terra.

Também não é boa para quem vai plantar trigo. O sorgo deixa na terra algo de que o trigo não gosta. Resultado: sempre dá colheita fraca.

Esta opção, entretanto, não dá está nos planos de Nelson. Ele vai plantar aveia-preta antes do feijao0 das águas, para servir como adubação verde.  Mas não vai fazer como o vizinho Ângelo que enterrou a aveia ates do plantio do feijão e perdeu as duas culturas. A massa verde deve ficar sobre o solo. Isso evita erosão e dá mais porosidade à terra.

A decisão foi plantar milho precoce. Ele espera colher 120 sacos por alqueire. O segredo? Nelson para ninguém. Mas contou para mim. Um deles é semear com menos espaço nas linhas. O outro é usar e: uma solução de 6% a 10% de Skrill, pulverizada sobre as sementes; e 20 quilos de FTE por hectare, junto com o adubo. (Skrill e FTE são compostos comerciais de micronutrientes, encontrados nas lojas especializadas.) Só assim uma cultura fora de época dá bem. Mas, por favor, não espalhem. Senão o Nelson não me conta mais nenhum segredo.