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Os Três Reis Magos

Como fruto duma parceria entre Navegos e o Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, por autorização de sua presidente Daliana Cascudo Roberti Leite, mais uma crônica da série Actas Diurnas, coluna mantida durante anos de labor jornalístico por seu ilustre avô e Historiador Honorário da Cidade do Natal.

*Luís da Câmara Cascudo

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A história dos Santos Reis do Oriente, Santos Reis Magos, é uma vitória da tradição oral, da cultura popular, sobre a secura dos praxistas religiosos. Foi uma veneração que o povo soube levar até o culto e derramá-la pelo universo cristão.

Dos quatro Evangelistas unicamente Mateus toca no assunto, ll, l-12. Marcos, Lucas e João guardam silêncio.

E mesmo assim Mateus quase nada diz na individualização dos visitantes à manjedoura onde nascera O Filho de Deus.

No capítulo ll, versículo l, informa, ao de leve: Ecce Magia b Oriente Venerunt Jerosolymam”. Eis que ins magos vieram do Oriente a Jerusalém.

Nada mais. Não diz que eram Reis e que eram três; também não lhes registram os nomes.

E não alude à cor epiderme de cada um.

Tudo foi obra do folclore, da cultura popular, reunindo versões. Divulgando-as, até que os doutores ficaram impressionados e as figuras surgiram coroadas, batizadas, racialmente distintas, na devoção do mundo católico.

A visita de personagens reais ao Messias estava profetizada nos Salmos de Davi e de Salomão (LXVlll, v-29.31, LXXll, v-911) e em Isaías (LX, 6-9).

Os cristãos simpatizaram com aqueles homens que tinham vindo de longe procurando o Rei dos Judeus, guiados pelo clarão de uma Estrela miraculosa, a nossa estrela de Natal, que está no escudo da nossa Cidade que lhe usa o divino nome.

Nunca mais intervieram na vida terrena de Jesus Cristo.

São Tomé, contam, ainda os encontrou vivos e velhinhos e lhes concedeu as águas do batismo em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo,

Morreram, não se sabe nem onde nem quando. Os corpos ficaram na Pérsia mas a Imperatriz Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, levou-os para Constantinopla, fundada pelo filho.

O admirável Ernest Hello, no Physionomies de Saints, escreve que Sainte Helen eles fit déposer avec magnificence dans la  Basilique de Sainte Sophie.

Devia ter sido assim, mas não é possível concordar a informação com a História. Santa helena faleceu em 327 em Roma. A Basílica de Santa Sofia foi construída em 532 e inaugurada em 537, no reinado do Imperador Justiniano. No tempo de Santa Helena não havia a Basílica. Ergueu-se 210 anos depois de Santa Helena ter morrido.

O Bispo Eustaquilo levou as relíquias para Milão, séculos depois. Em 1l62, o imperador Frederico Barbaroxa destruiu a cidade e os três Magos foram refugiar-se em Colônia, na Alemanha, onde estão, irradiando graças.

Mago é sábio, doutor, sabedor. O povo criou o título de Rei para aqueles que Mateus simplesmente dissera Ecce Maggi…uns sábios.

Na Igreja de São Vital, em Ravena, há um mosaico da  adoração dos Reis Magos, já com coroa real e nomes e cores. Data do século Vll. Há mesmo a sigla SCS, santos, o Rei Negro é o último que se aproxima do Deus Menino.

Cem anos depois, o venerável Beda reuniu toda a documentação esparsa, pesquisou, discutiu, citando todas as tradições e todas as fontes onde os Magos tinham sido mencionados.

Mas os Santos Reis do Oriente já estavam na predileção e na memória do mundo. O venerável Beda foi apenas e bem gloriosamente, o primeiro coordenador erudito da devoção existente.

Os nomes de Melchior (ou Belchior), Gaspar e Baltazar já estavam no vitral de Ravena no século Vll.

O Dia dos Santos Reis não é 6 de janeiro e sim 23 de julho. Seis de janeiro é a visão do Senhor, Visita dos Magos, Epiphania Domini…

Ó de casa, gente nobre! Despertai e ouvireis!

Que da banda do Oriente

Já são chegados os Três Reis!

Assim se cantava, no tempo passado, tirando os Reis na Cidade do Natal que também fpoi Cidade dos Reis.

A República, 12 de maio de 1960.