*Alexsandro Alves
A primeira parte desse artigo você encontra aqui.
A última produção da era Wolfgang Wagner foi o Parsifal, de Stefan Heiheim, de 2008. Aqui, o polêmico diretor conta a história política da Alemanha a partir da casa Wahnfried. Wahnfried, do alemão paz da consciência, é o nome dado por Wagner para sua residência em Bayreuth.
Por essa casa, passaram nomes de ponta da política alemã. Prefeitos, governadores, Kaisers e o Führer cearam com os Wagners enquanto misturavam suas concepções estéticas com o futuro político alemão.
Sempre fora um desejo de Wagner unir sua estética a um futuro glorioso alemão. Suas tentativas de cooptar Bismarck foram todas sem sucesso, mas quando o general de ferro venceu a França em 1876, Wagner disse: o Anel estreia esse ano, ano da nossa unificação!”.
Durante a década de 20, um jovem desconhecido, mas ambicioso, inicia uma amizade estreita e íntima com Siegfried e Winifred Wagner. Ansiava ser pintor, mas acabou sendo político.
Assim como os Wagners, via com desconfiança a República de Weimar e acreditava que o destino alemão residia, misticamente e profeticamente, nos dramas musicais wagnerianos.
Quando fundou o Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, declarou: para se compreender o que é a Alemanha e o que é esse partido, precisa-se compreender as obras de Wagner.
É esse passado sinistro que Heiheim desvela no palco da Casa dos Festivais.
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Em 2008, Wolfgang se retira de cena. Já com 89 anos, passa a direção da Casa para suas duas filhas, Eva e Katharina. As duas permanecem até 2015, quando atritos entre as irmãs termina com a saída de Eva da gestão.
A era Katharina Wagner é polêmica. Sua primeira criação para Bayreuth foi em 2007 quando seu pai era o diretor presidente. Um Mestres cantores de Nuremberg que foi amplamente vaiado na estreia e durante todos os anos em que esteve em cartaz. Se com Parsifal, Herheim lançava certas verdades incômodas contra os Wagners – e contra a Alemanha de forma geral, em seu Mestres cantores, Katharina desafia a audiência do Festival.
Sua produção zomba do conservadorismo do público, culpa a família, sobretudo Richard e Cosima, pelo reacionarismo estético e ainda desqualifica o casal de heróis, Walther e Eva, como pequenos burgueses mais interessados em dinheiro do que em arte. Sua provocação ecoou ainda enquanto a cortina descia, sob vaias de um público que não gostou da análise política feita pela estreante, Katharina ainda colocou em cena estátuas do escultor nazista Arno Breker!
A petrificação do gosto reacionário do público assumia a representação de um homem armado, numa simbiose invulgar entre o discurso final de Hans Sachs com o mito de Pigmaleão e Galateia.
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Cena do ato III, Hans Sachs e bonecos caricaturais de mestres alemães, Wagner é o primeiro à esquerda, de boina
Em 2013, Frank Castorf, dramaturgo brechtiano, é convidado por Katharina para um Anel. Mas não um Anel qualquer: 2013 foi o ano de bicentenário de Richard Wagner. A proposta de Castorf foi inserir a história do Anel no mundo da guerra fria entre EUA e URSS.
As fotos.
As produções de Bayreuth sob a gestão de Katharina têm se aproximado cada vez mais do pós-dramático, sobretudo quando ela dirige e também, no supracitado Anel, de Castorf.
Entre as melhores produções desse período recente, encontram-se o Tristão e Isolda, de Katharina, de 2015; o Parsifal, de Uwe Eric Laufenberg, de 2016; os Mestres cantores, de Barrie Kosky, de 2017; o Lohengrin, de Yuval Sharon, de 2018; o Tannhäuser, de Tobias Kratzer, de 2019; e O navio fantasma, de Dmitri Tcherniakov, de 2021.
As fotos.
Tristan e Isolda, 2015
Parsifal, 2016
Os mestres cantores, de 2017
Lohengrin, de 2018
Tannhäuser, de 2019
O navio fantasma, de 2021