*Alexsandro Alves
No Editorial de ontem, fiz uma espécie de prelúdio para esta série de artigos que inicio com este.
A princípio, imaginei não o seu conteúdo, mas o seu tom. Porque o conteúdo já me atormentava a cada novo ano letivo – quaisquer esperanças eram deixadas nos portões…
Por que? Por quem? Uma coisa é certa: qualquer caminho que a educação tenha trilhado nesse país, não culpem os professores, ao menos diretamente. Conforme os artigos forem publicados, será notório que o magistério é refém. Refém de quem? E para que?
Vamos principiar pelo início.
Como disse, o que mais me afligia era a questão do tom. Agressivo? De denúncia? Um tom melancólico? Resolvi que seria uma conversa. Nessa conversa quero sentar no calçadão e observar o mar, enquanto falo. Você está ao meu lado, ouvindo. Se identificando… combatendo… concordando… enfim, mas o tom é esse: uma conversa, simples conversa. Como um rio de lembranças de tudo o que vivi na educação.
É um divã.
Antes de chegar na escola de Ensino de Jovens e Adultos, devo lembrar a UFRN. Bons tempos.
E por outro lado, tempos ruins.
Fiz sociologia na universidade. Não posso afirmar que todos os cursos eram ou são conforme experimentei nesse. Ou mesmo se o curso permanece como em meu período de graduação. Eu converso sobre o meu período de graduação. Se um universitário estiver lendo, poderá dizer isso melhor do que eu.
Bem. Não irei perder tempo. Vamos para os professores.
O mundo ao qual somos submersos é o mundo marxista. Não há outro. Olha, isso é tão natural, que nós, alunos egressos do Ensino Médio, sequer imaginamos que possa haver outra concepção de realidade. É tudo a partir de Marx. Se fomos comparar com aquele outro judeu, podemos afirmar que há, para a universidade de humanas, antes de Marx e depois de Marx. E tudo o que é dado é, preferencialmente, o depois de Marx, sempre.
Não há outra visão de mundo.
Entendam que eu fiquei surpreso quando li Edmund Burke e Roger Scruton! Eu disse: “Há outras definições de cultura!”. Foi o que disse, com espanto. Por quê? Porque nos corredores e salas de aula de humanas só se pensa a cultura em bases marxistas! Todos os autores são marxistas, se há algum crítico, é “fogo amigo”, no máximo criticam para salvar alguma outra parte do autor.
Não é desconfortável isso? É. Por que apenas autores marxistas são nos apresentados? Por que tudo se resume ao marxismo? A Marx, a Engels, a Lênin, a Trótsky, a Gramsci, à Rosa Luxemburgo? E seus derivados. Nós somos atolados no lamaçal ideológico comunista e sequer percebemos! Nós não percebemos. É como uma segunda natureza. Simplesmente está ali, como o mundo criado por Deus e os adões e as evas vivendo a partir dele. A ideologia entra em nossa cabeça sem muito esforço.
Primeiro, porque não sabemos nada sobre ela ou sobre qualquer outra ideologia. Nós entramos na universidade como uma tábua rasa. Segundo, porque a autoridade do professor nos convence dela – além disso, todos falam a mesma linguagem. Terceiro, não somos apresentados a nenhum outro paradigma ou autor que seja de fato antimarxista. Há uma doutrinação marxista nas humanidades.
Sobre os professores, continuo.
O curso precisa de profissionais melhores. Eu tive uma professora, doutora, que durante o semestre inteiro só pisou na sala de aula duas vezes! Duas vezes!
O restante dos dias ela estava viajando. Congressos? Palestras? Não me interessa. Como se viaja em período de aula? E pior, se foi pela universidade, foi com dinheiro de nossos impostos! Ela não dava aula para viajar as nossas custas! Ganhava muito bem, para não trabalhar.
Meu Deus! Eu lembro de uma vez! Eu e um colega fomos pedir explicações! Toda semana, toda semana! Íamos para o bloco E do setor II para ela não aparecer! Fomos lá, no Departamento!
A resposta foi: “Ela deve estar chegando em Paris às oito!”.
Quanta humilhação. Ficamos parados. A doutora estava muito bem em Paris, tomando café e fumando um cigarro em algum café parisien. Voltamos para sala de aula. Quando retornamos, apenas dissemos: “ela foi para Paris”. Passamos o semestre inteiro sem as aulas de Economia Política.
Lembro de outro professor. Este passava trabalhos. Não ensinava. Faltou o semestre inteiro. Apenas aparecia no fim de cada unidade para passar trabalhos. E não vinha buscar. Nós que deveríamos passar em sua sala e colocar por debaixo da porta. Ou entregar para Tarcísio…
Houve outra que era uma comédia de mal gosto. Ela ficava sempre em uma loja de periódicos que funciona no CCHLA. Mas aí, resolveram que a mesma poderia dar aula. Nesse semestre, ela só faltou chorar na sala. Não tinha jeito para a cátedra, mas a empurraram assim mesmo.
Havia bons professores? Havia. Mas esses também sofriam de marxismo.
Não que seja um mal em si. O mal mesmo era não colocar, não apresentar outra visão de mundo.
Basicamente, os melhores professores eram os de Antropologia. Desses, em sua maioria, me lembro com muito respeito. Mesmo que sempre estivessem falando de pensadores dos Estudos Culturais ou alinhados com o marxismo, em menor ou maior grau: Levi-Strauss, Raymond Williams, Clifford Geetrz, Roque Laraia, Berger, Mead, Benedict… Como disse, o problema é a visão que afunila a realidade em só discurso ideológico.
Continua…