*Franklin Jorge
Passeios com a minha avó por uma Natal remanescente de outras eras. O Beco do Mercado, na Cidade Alta, e o Beco da Rua Coronel Cascudo, ali perto, em cujas calçadas do lado oposto havia uma profusão de vendedoras de frutas silvestres, apanhadas nos tabuleiros e nos pomares que abundavam nos quintais, e em seus arredores, no Ceará-Mirim, Estremoz, Macaíba, São José, Nísia Floresta, municípios ricos em insumos naturais.
Esses passeios acabavam quase sempre em uma sorveteria, num café, numa livraria, como uma soturna que havia na Ribeira, a Livraria Moderna no Alecrim e a Universitária, no bairro da Cidade Alta, de fachada moderna, superando em tudo quaisquer empreendimentos anteriores. Tinha dois andares. No térreo, além das novidades editoriais, funcionava também ali uma papelaria sortida de tudo. No andar de cima, a livraria propriamente dita, cheia de novidades ao alcance de todos.
Natal parecia-me um presépio ou assim a descrevia a minha avó, encantada pela paisagem e o relevo geográfico da cidade, imersa em lembranças da mocidade, ali, por aquelas ruas que evocavam um tempo perdido.
O Centro da cidade rescendia ao aroma das frutas, verduras, raízes. A luz da água que porejava das folhas de bananeiras que forravam grandes cestos cobertos de cajus, sapotis, sapotas, frutas-pães, pitangas, jenipapos, mangabas, jabuticabas, seriguelas, umbus, cajás-mangas, pinhas, graviolas, murtas, carambolas, mangas, bananas, araçás, azeitonas, pitombas, roletes de cana. Os frutos da terra que abundavam por vales e tabuleiros.
De vez em quando, para manter o viço e a umidade das frutas, uma mão aspergia vagarosamente um punhado d´água sobre os cestos. Esse gesto desencadeava uma milagrosa saraivada de gotículas brilhantes, transparentes, cheias de luzes repentinas, que ao tocar as frutas libertavam os mais sutis e tentadores aromas naturais. Variedade e fartura, em contraste com o mercado do Assu, pobre de frutas e legumes, apesar da terra uberosa.
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