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Patinhas tão amadas!

Fundador de Navegos escreve sobre uma de suas mais adoráveis paixões: os seus gatos, que circulam, ronronando, como leõezinhos de cidade grande, pelo seu jardim e pela sua horta.

*Franklin Jorge

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A manhã, forjada pela chuva noturna serena e continua, irrompe em meio à luz e ao frescor que nos faz sentir a magnanimidade de Deus. Desperto e inebriado pelo cheiro visceral de terra molhada e fértil, que purifica a alma e a torna leve, aérea e solta.

Nessa inspeção rotineira pela terra medida e contida que me cerca, em Pitimbu, seguem-me meus gatitos  Sophie e Benjy; Pimentinha; Preto Gil; Mel; Chapeuzinho; Kukinha, assustada,  terra primitiva, ainda com resquícios de Mata Atlântica, entre as quais, nessa rua de boa vizinhança e tranquilidade onde os meninos jogam bola, e, mais cedo, amantes de caminhadas vão e vêm, às vezes detendo-se para admirar os gatos que vigiam e as plantas que mesclam folhagens, flores, frutos, hortaliças e especiarias.

Verifico se as hortaliças sofreram algum dano noturno, ou se a chuva afogou ou danificou os tomateiros, as couves, os repolhos, alhos-porós, rabanetes. Acarinho um ou outro, como Dartagnan, que se joga no chão, mal me vê, deixando à mostra a barriga para receber carinhos. E mia escandalosamente, como se estivéssemos a matá-lo. Às vezes tem ciúmes, se estranham entre si e brigam, brigam, brigam até que os separo e os advirto a não brigarem.

Pikitita, que me custou um Cruzeiro pelo Mediterrâneo, há 19 anos fazendo-me companhia. Não me divide com ninguém. Ciumenta e exclusivista, jamais fez amizade nem se deu bem com nenhum outro dos gatos aos quais procuro servir com desvelos e cuidados necessários à dignidade de cada um. Recolhi-a, abandonada à uma extrema miséria; pele e ossos, faltava-lhe a pele, devorada por uma tal Dermatite Fria que a deixara em carne viva.

Confesso que senti alguma repulsa e não a toquei enquanto ela mansamente se deitara aos meus pés, exausta. Quis saber mais: como chegara ali; se fora escalpelada; se, durante todo aquele tempo, recolhida ao depósito de acessórios de jardinagem daqueles servidores da Prefeitura de Mossoró que sentiram na pele o sofrimento de um bicho inocente, como revelou um deles. Chegou aqui com um outro gatinho, da mesma cor, branca, que morreu no mesmo dia. Estava nas últimas. Pensamos que pudessem ser mãe e filha; mas, dado o tamanho minúsculo das duas, concluímos que seriam, não mãe e filha, irmãs…

Resgatei-a no dia seguinte, após uma noite insone. Em homenagem a Luísa Mercedes Levinson, chamei-a de Pikitita. Frequentemente ela me acorda, entre as 4 e 5 horas para passear entre florífelas e frutíferas da nossa amável representação do Paraíso na Terra.

 

Franklin Jorge e Preto Gil

 

Franklin Jorge e Mel