*Alexsandro Alves
Inicio este artigo sobre Paulo Freire respondendo a uma pergunta que foi-me feita no privado de minhas redes sociais. Agradeço a quem fez os questionamentos e peço que também comentem na sessão de comentários logo abaixo do artigo, isso valoriza mais o site e torna o conteúdo mais relevante dentro dos mecanismos de buscas, além disso, é uma ótima chance de iniciar um debate virtual.
A dúvida que alguns leitores tiveram foi com relação a um trecho do artigo anterior, que você lê ou relê aqui: https://www.navegos.com.br/meu-encontro-com-paulo-freire/, e diz respeito ao meu comentário sobre música clássica e Paulo Freire. Segundo alguns, não há na Pedagogia do Oprimido nada contra a música clássica. Evidente que Freire não panfleta contra essa forma de arte, talvez até gostasse, não sei. Porém, dada a influência de Freire, um ou dois trechos em que palavras se encontram, podem resultar em pensamentos e ações os mais diversos. Explico.
Na página 25 da Pedagogia do Oprimido, edição da Paz e Terra de 1987, lemos:
“Mas, o que ocorre, ainda quando a superação da contradição se faça em termos autênticos, com a instalação de uma nova situação concreta, de uma nova realidade inaugurada pelos oprimidos que se libertam, é que os opressores de ontem não se reconheçam em libertação. Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos. É que, para eles, “formados” na experiência de opressores, tudo o que não seja o seu direito antigo de oprimir, significa opressão a eles. Vão sentir agora, na nova situação, como oprimidos porque, se antes podiam comer, vestir, calçar, educar, passear, ouvir Beethoven enquanto milhões não comiam, não calçavam, não vestiam, não estudavam” (…)
Percebem? Sorrateiramente Freire liga Beethoven, i.e., música clássica, aos hábitos do “opressor”. Por duas vezes quando Freire cita Beethoven, é sempre relacionando-o ao “opressor”. Bem, se para bom entendedor meia palavra basta, não é preciso muito esforço para entender que Freire relaciona certos gostos com gostos e hábitos da perversa elite opressora. A música clássica vai junto. Talvez não tenha sido algo consciente da parte de Freire, mas acabou como um estigma, uma marca da colonização opressora. E o meu professor, claro, queria “me salvar”, dessa cultura “estrangeira”.
Uma das melhores maneiras de ler um texto é procurar compreender sua estrutura. Por exemplo, quantas vezes determinadas palavras aparecem em um texto? Quantas vezes Piaget ou Vygotsky aparecem no livro de Freire? Nem uma vez! Ao invés disso, quantas vezes Marx aparece? Sete vezes. Sem contar termos como marxista e marxismo. Quantas vezes Lênin aparece? Duas vezes. Quantas vezes Che Guevara aparece? Nove vezes. Na verdade, com relação ao Che, há parágrafos inteiros em sequência, aqueles mais famosos são os que Freire fala do amor de Guevara pela revolução, o que o fazia matar, por amor, claro, quem discordasse dela. Será que Freire não sabia do horror que o amor de Fidel e Guevara provocaram em corpos homoafetivos durante a revolução em Cuba? Sabia. A Noite dos 3 Ps ficou famosa. Assim como as sessões de cura gay promovidas pelos revolucionários: trabalhos forçados e vídeos pornográficos heterossexuais para os presidiários gays e lésbicas e claro, não podia faltar, muito, mas muito eletrochoque! E devemos ressaltar, tal como ocorria na URSS, tudo isso era política pública contra gays e lésbicas! Viva la revolución!
E agora me vem uma epifania homo capitalista! Não é nos EUA que ocorreu Stonewall! Ah, capitalismo opressor onde os cidadãos podem exigir seus direitos!
É um manual de guerrilha. É um manual onde a palavra “elite”, sempre ligada ao termo “opressora” ou “dominadora”, ou qualquer outro adjetivo de teor opressor, aparece 56 vezes. “Sala de aula” não aparece uma única vez! Mas como? Estamos falando de um livro que leva a palavra “Pedagogia” no título. E nem sequer pedagogos são citados. Ao invés deles, temos, de Marx a Fidel, toda uma gama de revolucionários desfilando nos parágrafos freirianos.
Também os títulos dos capítulos são reveladores, em sua grande maioria, revelam um desejo não de educar, mas de modificar o status quo. Há tópicos sobre reforma agrária, sobre a Revolução Cubana, sobre matar inimigos. Não há nenhum tópico sobre psicologia educacional ou algo que ao menos fantasie que Freire fala de fato sobre ensino-aprendizagem. Ele fala sobre treinar soldados.