*Alexsandro Alves
A secretária de Educação do Rio Grande do Norte, a professora Maria do Socorro da Silva Batista, operou uma mudança em sua personalidade que podemos creditar a um milagre da fé comunista. Coisa de companheiro. Em 2015, a professora era secretária adjunta de Educação do Estado, em pleno governo Robinson Faria, amado pelo Partido dos Trabalhadores, à época, e se posicionou favorável à paralização grevista dos discentes da UERN, que em 10 de setembro de 2015, alcançava a marca de 110 dias de greve, nesse dia, a distinta concedeu uma entrevista à Tribuna do Norte em que se posiciona a favor do movimento grevista, culpa o Estado pela greve e ainda reclama de um acordo não cumprido pelo governo anterior com a categoria. Quanta mudança hoje.
Hoje a distinta grava vídeo apreciando lagosta, esbanjando despreocupação e orando em locais paradisíacos e bem acompanhada. Com relação à greve dos professores do Estado, que ocorreu a poucas semanas, a secretária concedeu uma entrevista em uma revista eletrônica “independente”, pois que faz propaganda do governo Fátima Bezerra em suas páginas, para que a sociedade saiba mais sobre os culpados da greve. Sim, a secretária deixou entrever que os culpados eram os professores e que os mesmos têm que pensar nos estudantes. Não era assim o pensamento dela em 2015. Foi estarrecedora essa entrevista. Ela culpou a categoria porque a mesma exigia acordos não cumpridos pela governadora. Porque a categoria exigia o cumprimento do piso. Enfim, nada de novo. Como em todos os governos anteriores.
Mas há uma diferença.
A condução da greve pelo SINTE/RN escancarou o que todos já desconfiavam: há um acordo informal entre governo e sindicato. Há mesmo uma necessidade de greve! Parece mórbido, mas é exatamente isso. Por que o sindicato e o governo desejariam greve todos os anos? Primeiro: para dar alguma credibilidade ao SINTE/RN. Para que a imagem de batalhadora da educação que Fátima Cardoso construiu ao longo de seu reinado de mais de 40 anos a frente do SINTE/RN não desapareça. O SINTE/RN é o maior sindicato do estado. Todos os meses milhares de reais são colocados nos cofres do sindicato oriundos dos descontos em folha dos filiados. É muito dinheiro que se ganha. Os professores lembram do escândalo dos R$ 400 milhões que os advogados do SINTE/RN receberiam graças a uma ação coletiva movida pelo sindicato?
Essa ação visava o pagamento de valores que o Estado deve aos professores. Bastaria o governo pagar. Não precisava de ajuizamento. Mas, não pagando, o governo colaborou com seus amigos do SINTE/RN e a causa foi ajuizada. Acontece que para cada matrícula elencada na ação coletiva, os advogados receberiam 10% dos filiados e 20% dos não filiados do valor de cada pagamento. A primeira questão foi entre os filiados: “nós já pagamos o SINTE/RN para termos direito aos advogados, precisamos pagar mais 10% agora, por quê?”, depois veio a sensação de desconfiança em toda categoria, filiados ou não, quando soubemos dos valores que os advogados receberiam: eram milhões, centenas de milhões! Através da exploração da miséria do magistério, os advogados do SINTE/RN se tornariam milionários!
Pois bem!
Foi um escândalo! Quem sabe quem mais ganharia? Quem sabe os acordos espúrios feitos nas sombras? Iríamos tornar quem mais milionários? Através de nossa miséria, comeriam lagosta e caviar! Desistiram. Pegou muito mal! Muito mal mesmo! Os advogados nada receberão pela causa. Mas isso só foi possível porque veio às claras a tramoia, ficou óbvio o que estava ocorrendo, o que fariam com nosso dinheiro! O lixeiro ideológico de lutar pela classe operária e enricar às custas da miséria da mesma! Como puderam ser tão descarados, tão sem vergonhas? Como puderam imaginar que não haveria uma resposta contundente da categoria? Será que pensam que somos ovelhinhas e carneirinhos pacíficos? Que somos massa de manobra? Talvez pensem mesmo isso. Porém se envergonharam. Suas vergonhas foram expostas e tiveram que cobri-las.
Segundo: manter a categoria acuada e necessitada de auxílio quando para fazer valer seus direitos. O governo Fátima Bezerra e o SINTE/RN trabalham dessa forma: mantendo a categoria fragilizada, sempre carente e aos pés da mesa do governo e do SINTE/RN para comer as migalhas que sempre nos são jogadas. As atuais migalhas são o piso de 2022 que foi dividido em tantas vezes que só terminará de ser pago em 2024; o piso de 2023 que só terminará de ser pago quando a conclusão do de 2022 ocorrer. Aos pouquinhos. E o piso de 2024? Será decidido em uma greve forjada e fajuta, em que a categoria será penalizada pela secretária e pela governadora, por mídias independentes que fazem propaganda do governo e pela população. Já contamos com a greve em 2024. Sabemos que virá para que o SINTE/RN mostre sua utilidade. A greve é um disfarce.
Disfarce para que?
Para encobrir a real má vontade do governo e do SINTE/RN com a categoria. Para fazer parecer que há luta. Mas é tudo planejado. Não podemos mais confiar nesse sindicato. Já não tem utilidade de fato. É tudo um teatro, uma espécie de Show de Truman bem montado, bem realizado. O pior é que a categoria sabe que o SINTE/RN e suas greves são farsas. Nós sabemos que o governo pode nos pagar conforme desejamos. Mas permitimos chegar a esse ponto. Permitimos que uma Fátima diga que não tem recursos, permitimos que outra Fátima deflagre uma greve falsa, permitimos que a secretária zombe de nós em um veículo de mídia que se diz independente enquanto exibe anúncios do governo, é tudo claro. Na nossa cara! Tão ultrajante quanto a lagosta e as orações da secretária de Educação.