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Poemas metalinguísticos e transcriações apócrifas

E-book reúne poemas e transcriações produzidos por um poeta que se diz de “fôlego curto”, em grande parte inéditos há mais de 40 anos

*Da Redação

Poemas Apócrifos & Museu de Tudo reúne a produção poética do autor até quando se seu conta que seria um “poeta de fôlego curto” e despediu-se da Musa. São poemas metalinguísticos, ”apócrifos”, como os definiu o próprio autor, e “transcriações” poéticas que se enriquecem com o conhecimento posterior.

Eis o que escreveu sobre o livro o poeta e professor João Batista de Morais Neto:

O afã do afano na lírica de Franklin Jorge

Existe uma faceta, melhor diria, façanha, na poesia de Franklin Jorge que me lembra algo que ilumina a lírica de Manuel Bandeira. Trata-se de um artifício antitético que se resolve na tessitura desses poemas que me agradam pela surpresa da revelação dos referentes mais comuns de forma criativa. Falo da confluência da sofisticação e da simplicidade dos Poemas Apócrifos.

É com muito prazer que escrevo este parco posfácio para a composição deste livro. Pois ao me deparar com estes textos cuja beleza inquieta-me, penso no conceito de estranhamento, do formalista Chlovski, como o deleite do inusitado. E é estranho afirmar isto, quando se faz a leitura de poemas que se dizem apócrifos.

O autor, que assume em sua lírica as máscaras de vários poetas, incursiona pela vertente poética do furto; realizando, assim, neobarrocamente, a “arte de furtar” destes anos siderais que avançam transfigurados em performances de realidade virtual.
Borges e Pessoa são máscaras desse autor de textos poéticos que se constitui em poeta e em eu-lírico do imaginário. Esse poeta que afana, assume-se transcriador. Logo, penso no rabino das Galáxias, esse cosmonauta chamado Haroldo de Campos que nos diz: “Novalis, na Poética (fragmento 490), indaga: Uma vez que se põem tantas poesias em música, por que não pô-las em poesia? A tradução como transcriação é o pôr em poesia da poesia. Por isso mesmo, Novalis também definia o tradutor como o poeta do poeta. Nessa mesma sequência de ideias o transcriador poderia ser visto como o ficcionista da ficção”.

Vejo que o poeta em seu afã de afanar busca situar-se no universo da transcriação ao fingir ser muitos. Fernandez Moreno escreve seus versos em Buenos Aires, quase não registra as datas de sua produção e na persona de Franklin Jorge acontece em português. Seria um argentino que, no fervor neobarroco, ao transficcionalizar-se, translada seu próprio texto do espanhol para o português, quem sabe até através do processo de intratextualidade?

Há algo nessa lírica afanosa que recorda os temas do hai-kai. Pensem na definição poética que se enxerta neste verso:

                                           A magnólia é uma flor
                                           desmesurada
                                           para ser beijada apenas
                                           por monstros e fadas.

Porque tudo já foi dito e todos os versos já foram escritos, os Poemas Apócrifos seguem a trilha da reescrita de tudo. E para isso, todos os procedimentos são perfeitos. Por conta disto, Manoel de Barros, poeta de linguagem privilegiada, diz: “Então, o que se pode fazer de melhor é dizer de outra forma. É des-ter o assunto. Se for para tirar gosto poético, vai bem perverter a linguagem”. Temos, dessa maneira, o rapto, o furto, o sequestro, o palimpsesto. Tudo vale a pena, tudo vale a re-escrita.

Sob o sol da América mestiça, vertemos os versos dos outros em nossa língua – caravela atômica de marés e espaços  fazendo a poesia que se instaura supernova como a luz a luz as estrelas que se apagou há uma infinidade de tempos, mas
que se presentifica no horizonte de nossa contemporaneidade.

Natal, 08 de setembro de 1994.

Em detaue, capa do livro criada por André Rodrigues; acima, a caneca [image meramente ilustrativa] que financia a edição impressa.