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Poesia e música do Nordeste

Autor de Memorial da Anta Esfolada {Editora Feedback, Natal, 2014) aproxima literatura e música e expõe afinidades entre José Lins do Rego e Luiz Gonzaga

Antenor Laurentino Ramos

José Lins do Rego, Luiz Gonzaga, duas expressões da alma nordestina; um, escritor, o outro, intérprete da canção. Ninguém mais expressivo do que eles, dessa parte do Brasil!

O chamado Rei do Baião, marcou época. Pode-se fizer que, com ele, a música nordestina divide-se em: a de antes de Luiz Gonzaga e a de depois. Foi como na canção da Idade Média, o seu trovador maior. Ali está o nordeste, seu povo. Em cada ritmo e em cada nota musical, faz-se presente. As dores, as alegrias, as tristezas, as esperanças, as crenças e costumes de toda uma região marcante do país é nele que se encontram.

Em José Lins do Rego também. As marcas de oralidade que existem no ficcionista e no cantor, estabelecem, entre eles, um certo grau de parentesco. Nos romances linsreguianos, na sua prosa, há todo um povo a sonhar e a sofrer de um sofrimento existencial. São, enfim, valores universais, fazem do ser vivente dicotômico sonhador e eterno insatisfeito.

Temas como amor, saudade, melancolia, apego às raízes, às tradições de família é que fazem de José Lins do Rego “o trovador trágico da província”, como bem o definiu o crítico Otto Maria Carpeaux. O conteúdo lírico e telúrico da obra desses dois grandes artistas, poetas do povo, torna-os imortais. Não morrerão nunca. Enquanto existir o Nordeste, com sua gente, Luiz Gonzaga e José Lins do Rego ali estarão também. Pena que muitos dos jovens estudantes de hoje desconheçam a beleza de sua obra.

Felizmente que os nossos bons autores de hoje, entre eles, citamos Ariano Suassuna e Thiago de Melo, vez ou outra, chamam a atenção dos amantes da boa leitura para a importância desses dois grandes vultos de nossa terra. São, na verdade, seus continuadores naquilo que deixaram de bonito, entre nós.

Que os chamados fazedores de cultura, denominados também de guardiões do saber, cuidem disso! A mídia, poderoso instrumento de divulgação, ao mesmo tempo, construtora e destruidora de mitos, a ela, cabe, também, essa missão! Não se justifica que isso ocorra: deixar que caia, no esquecimento, o nome e a obra desses dois grandes expoentes da música e da literatura brasileira.

É verdade que, tanto um como outro, são lidos e ouvidos em boa parte do país, mas ainda é pouco! É preciso mais! Que estudantes contaminados e viciados de estrangeirismos, com vícios de linguagem os mais descabidos possíveis, possam tomar conhecimento da poesia do Nordeste. Não por ouvir dizer, mas através da leitura dos seus mais lídimos representantes.

Escutemos, portanto, Luiz Gonzaga e leiamos José Lins do Rego! Não fazem mal nenhum! Muito pelo contrário. Só assim, seremos dignos de respeito como povo que ama a sua Arte e o seu Saber.

Antenor Laurentino Ramos, escritor e professor aposentado.