*Mauro Mota – Escritor, Poeta, Ensaísta, membro das Academia Brasileira e Pernambucana de Letras.
De súbito
É como se apodrecessem
As tenras maçãs
Na fruteira.
Também a minha mão,
No gesto de atirá-las fora,
Á sua natureza se incorpora.
Eis a primeira mostra. O poema com todo o seu conteúdo, na fusão do possuidor e da coisa possuída, no transitório de ambos; o poema bem construído, belo e sóbrio, sem que a sobriedade reduza o seu impulso de intenções e sim, ao contrário, mais o afirme. E em fidelidade a um processo também de outras peças, inclusive nesta onde nem o desespero exonera uma poesia que não foi de ninguém antes:
Mãezinha, Deus só ama
Os cegos, os aleijados,
Os surdos-mudos de nascença.
Acima do homem,
Deus ama a doença.
Deus não é nenhum deus;
É um hospital.
Ficha do autor: Franklin Jorge, 23 anos, nascido e residente no Ceará-Mirim, nada mais sei sobre ele pessoalmente nem precisaria saber, conhecendo e com o privilégio de conhecer em primeira mão, inédito em jornal e livro, a sua arte:
Por um minuto,
Deixa-te ficar
Quieta e doce:
Não pense em nada,
Para que eu possa
Te possuir inteira.
Nada mais precisaria saber além de saber que, na pequena cidade do Rio Grande do Norte, Franklin Jorge cria uma poesia que se junta á mais perdurável da sua geração e do nosso tempo.
.Diário de Pernambuco: Recife,7 de fevereiro de 1976