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Poltergeist em Nova Cruz

Memorialista, autor de um memorial de sua terra de origem, revive estranho fenômeno que abalou importante cidade do Agreste

Antenor Laurentino Ramos 

Os chamados fenômenos paranormais têm ocorrido, em todos os lugares do mundo, independentes de tempo e de lugar. A eles, têm-se dado interpretações as mais diversas: artes do demônio, fenômenos mediúnicos, ilusões da mente ou prestidigitação. O fato é que tais explicações nunca chegam a contento. Cada um encara-os dentro de sua ótica pessoal de entendimento. Fica, portanto, difícil, chegar-se a um consenso; permanece tudo, na área do subjetivismo e continua a discussão. Resta-nos, como alternativa possível, registrá-los, para a história, e esta é a nossa única intenção.

Em Nova Cruz, como não poderia deixar de ser, e para confirmar a regra, aconteceram, também, nos diversos tempos, esses chamados “fatos do invisível.” Entre eles, pontifica “ o caso das Pintas” e é só deles que trataremos aqui.

Lembro bem, eram nos meus tempos de estudante. Eu passava minhas férias escolares naquele lugar. Os personagens envolvidos na história eram parentes meus;

Jacó Pinto e suas irmãs, mulheres muito religiosas, frequentadoras assíduas da Igreja eram o que, sem nenhum propósito de deboche, chamava-se de “Baratas de Sacristia”.

Pois bem, de uma hora para a outra, a casa dessa família vira-se invadida por sapos, mas sapos em grande quantidade. Causava espanto. Sapos dentro do guarda-roupa, das malas, dos baús, no banheiro, dentro das redes, em cima das mesas e das camas, na sala de jantar. Já não se podia mais comer sossegado: lá estava, em cima da tampa das panelas de feijão, de carne ou de arroz, um sapo enorme. E como se não bastasse, outros fenômenos juntavam-se a esses: o rádio a funcionar sem que ninguém o ligasse. Se era trancado dentro do guarda-roupa, daqui a pouco, lá estava ele a funcionar de novo! Era um inferno! jatos d’água partiam de lugares inesperados e quando ia-se ver, não havia nada. Na hora de dormir, as pobres velhinhas eram despertados por vultos estranhos, que riscavam palitos de fósforo e as queimavam.

Eu mesmo fui testemunha desses fenômenos. Fora com minha mãe, visitá-los. “– Ninguém tem mais sossego, nesta casa, Olda!” Dizia Jacó. “A toda hora, acontecem coisas misteriosas aqui! Aurora, uma de suas irmãs, mostrava-nos os cabelos chamuscados de as marcas de queimadura nos braços e nas pernas. Dizia-nos Mimô que a casa já tinha sido visitada por padres, por pastores evangélicos, por gente da Federação Espírita, e nada de os fenômenos acabarem! De uma coisa, apenas, estavam todos certos: esses efeitos de Poltergeist só se produziam com a presença de uma garota, parenta deles. Sempre que ela ia embora, tudo voltava ao normal. E por muitos anos ainda, a Casa das Pintas passaria a se chamar de “A Casa dos Sapos”.

Fica aqui registrado o que há tempos em Nova Cruz, se passou. Existem explicações para isso? A questão fica em aberto: Só nos resta dizer como o personagem de Cervantes: -“Eu não creio em Bruxas, mas que elas existem, existem!”

Antenor Laurentino Ramos–  Professor. Escritor