*Alexsandro Alves
Há autores que “explodem nossa cabeça” porque detonam todo o sistema econômico, social e político. São “insurgentes” culturais, pensadores ou artistas que simplesmente jogam seus molotovs nas ruas de nossos neurônios e por isso os imaginamos como indispensáveis.
Foucault, Deleuze, Gatarri.
O mais interessante e comum nesses autores é que passam páginas tentando explicar suas novas concepções existenciais, seus novos conceitos, que serão “revividos” por seus seguidores acadêmicos e colocados no mercado como itens “cult”, “descolados”, “in”.
São autores que nasceram com a vocação para nichos “fashions”, quase simulacros de pensamento da cultura pop. Não nego que seja delicioso lê-los. Mas há um momento em que o adolescente precisa crescer. Viver de revolta só serve para quem tem dinheiro.
Basta lembrar-nos de maio de 68, em Paris. Jovens ricos saíram pelas ruas da cidade quebrando tudo. Exigindo o fim de tudo. Eram jovens endinheirados da classe média, gente entediada antes dos 30! E falavam e agiam, segundo afirmavam, pelo proletariado.
O proletariado estava nos ônibus depredados e incendiados. Não voltariam para casa àquele dia, enquanto seus defensores, após o motim, se recolheriam em suas casas confortáveis e dormiriam o “sono dos justos”. Essa geração nonsense precisava de representantes. E eles surgiram na cultura.
Foucault, Deleuze, Gatarri, Althusser, Derrida…
Aproveitaram a fogueira social e jogaram gasolina. Das cinzas ergueram vazios. É o modelo de pensamento que sobrevive do canibalismo sempre renovado. Ouroboros intelectuais. Porém, por mais engraçada que seja, a piada repetida se torna cansativa, como afirma Hobsbawm sobre Duchamp.
E é isso que me leva a Roger Scruton.
Foi uma descoberta sem igual. Scruton faz parte desses filósofos que parecem não existirem hoje. Ele pensa. Ele pensa uma tradição filosófica. Scruton não “explode cabeças” porque seu texto é um complexo de termos novos que precisam se explicar sem nunca chegar a um ponto certo e ninguém de fato os usará.
Ele “explode cabeças” porque seu texto é claro. Porque seu texto é lúcido. Porque não nos diz que descobriu a roda. Ele a usa. Senhor de um arcabouço cultural infinito, Scruton se coloca como uma espécie de farol em meio a uma filosofia que implora para não ser compreendida nunca.
É fácil se perder na Passagem de Drake que são esses filósofos franceses da geração maio de 68 e pós. Suas ideias agem como “crack”, como uma droga muito poderosa que anestesia o cérebro. Sabe aquele Seu Patropi? Aquele personagem, hippie, “intelectual”, que vive ao léu? É o retrato dessa filosofia.
Roger Scruton surge como um farol. Somos atraídos por ele pela lucidez e sinceridade de suas palavras. Pela humanidade de seus textos e sobretudo, pelo desejo de dialogar com a inteligência adulta do leitor e não com a eterna adolescência molotov.