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Por que o Brasil ainda não ganhou nenhum Prêmio Nobel?

Mais do que um atraso econômico, o atraso brasileiro é educacional e cultural, é civilizacional.

*Irapuan Costa Junior(**)

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É impossível ganhar um Nobel com o saber subordinado à ideologia. Seguiremos passando vergonha frente a nossos vizinhos mais pobres e menos populosos.

A láurea mais cobiçada pela intelectualidade do mundo ainda é, sem dúvida, o Prêmio Nobel, da Real Academia de Ciências da Suécia e do Comitê Norueguês do Nobel, nas suas seis modalidades.

O Nobel é atribuído anualmente, desde 1901, para os maiores destaques internacionais em cinco áreas: Física, Química, Literatura, Fisiologia ou Medicina e Paz.

O Banco Central da Suécia atribui, desde 1968, um prêmio para Economia que ficou conhecido como um sexto Prêmio Nobel.

A premiação é um destaque intelectual ao qual só se pode chegar com pendor, inteligência, muito estudo de boa qualidade e muita dedicação. Vale dizer que a educação do candidato a Nobel deve ser excelente nos três níveis normais e sua pós-graduação deve apontar para um extraordinário esforço de aprofundamento em sua especialidade, chegando até a descoberta de algo benéfico à humanidade. A menos que seja um extraordinário autodidata.

As nações mais populosas tendem, teoricamente, a produzir mais prêmios Nobel ao longo de sua história, desde que, evidentemente, proporcionem à sua população qualidade de vida, ensino de excelência, apoio à cultura de maneira geral e à pesquisa científica em particular.

Essa reunião de circunstâncias explica por que os EUA — campeões em número de prêmios Nobel (mais de 400) — os conquistaram muito mais que China e Índia, nações bem mais populosas. E nos leva a constatar que em termos de prêmios Nobel per capita os campeões (logo campeões em ciência e cultura) não são os EUA, Inglaterra e Alemanha, os três que maior número de Nobel conquistaram, mas as nações europeias: Luxemburgo, Suécia, Suíça, Áustria, Noruega e Dinamarca, não por coincidência, todas com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) acima de 0,920.

Os Estados Unidos, nesse critério de prêmios por habitante, caem para um bem mais modesto patamar: décimo terceiro lugar.

Há uma surpresa: campeã “hors-concours” em prêmios Nobel per capita é a pequenina república caribenha Santa Lucia (cerca de 200 mil habitantes) — que conquistou dois Nobel: um de Economia, outro de Literatura, mesmo tendo uma população mil vezes menor que o Brasil.

Por falar nisso, é inevitável a indagação: por que o Brasil nunca conquistou um Nobel, mesmo populoso como é?

Por que não, se na América Latina temos a vizinha Argentina com cinco conquistas, mesmo tendo população cinco vezes menor que a nossa, o México com três Nobel para uma população uma vez e meia menor? E Chile e Guatemala, ambos com população próxima a 10% da brasileira, cada um com dois prêmios Nobel na parede, o mesmo acontecendo com a Colômbia, com população quatro vezes menor que a brasileira? Sem falar na pequena Costa Rica, que tem seu Nobel desde 1987 e tem população quarenta vezes menor que a nossa.

Em tempos melhores estivemos perto da premiação: o cientista Carlos Chagas esteve próximo do Nobel de Medicina, Cesar Lattes quase levou o de Física, Jorge Amado (e, segundo Antônio Olinto, o poeta Jorge de Lima chegou a ser cotado) esteve perto do de Literatura e o marechal Cândido Mariano Rondon chegou a ser recomendado por Einstein para o Nobel da Paz.

Mas o fato é que, para vergonha nossa, nunca conquistamos um prêmio desses. Não reunimos aquelas condições citadas lá em cima e, pelo que vemos a cada dia, com os governos “progressistas” que tivemos — e temos — cada vez mais nos afastamos dessa conquista cultural.

Nosso IDH é modesto (0,760), abaixo de Chile e Argentina, para falar de vizinhos premiados com o Nobel. Como o cálculo do IDH se baseia em renda, saúde e educação, e sem educação não existe Nobel, isso já explica muita coisa.

Mas a nossa educação caiu para níveis sofríveis no básico, no médio e no superior, como mostram as avaliações internacionais, estando nos últimos lugares entre as nações do planeta.

Os incentivos à pesquisa e à tecnologia praticamente inexistem no governo federal, que prefere premiar artistas indolentes.

A sociedade brasileira mostra os reflexos desse estado de coisas, que é urgente reverter, mas essa reversão não parece presente nas preocupações dos políticos.

Um desses reflexos brilhou no sucesso que fez a pornô-cantora Madonna dias atrás em Copacabana. A juventude brasileira aprendeu a apreciar esses espetáculos de baixíssimo nível, e não a música educativa e erudita apreciada na Europa, por exemplo.

Um outro índice de atraso intelectual pode ser obtido em uma pesquisa recente — e essa tem relação direta com o ambiente que deveria produzir os nossos prêmios Nobel. A pesquisa, feita pelo jornal “Gazeta do Povo” e pelo Google, examinou 7.000 trabalhos universitários brasileiros tomados aleatoriamente. São dissertações de mestrado e teses de doutorado de 93 faculdades e em mais de 200 áreas do conhecimento humano.

Advinha o leitor quem são os eruditos mais citados nessa miríade de estudos brasileiros sobre o conhecimento ao longo dos séculos? Platão, Aristóteles, Kant? Descartes, Newton, Einstein? Shakespeare, Dostoiévski, Victor Hugo? Machado de Assis, Lima Barreto, Ruy Barbosa? Nada disso.

A preferência do meio universitário brasileiro, mostrada de sobejo nesses trabalhos, recaiu sobre três figuras: Karl Marx, Paulo Freire e Michel Foucault.

Para que o leitor tenha uma ideia da profundidade científica desses trabalhos, Paulo Freire é citado mais de 700 vezes no conjunto examinado, enquanto Albert Einstein aparece em apenas cerca de 300 citações — menos da metade.

Em outras palavras, as fontes preferenciais onde nossos cientistas bebem conhecimento são: um filósofo (Karl Marx) que se provou totalmente equivocado em suas concepções em mais de oitenta experimentos sociais cujos resultados foram desastrosos e diametralmente opostos às suas previsões; um educador (Paulo Freire) cujo método educacional, um plágio desvirtuado, nunca foi adotado em nenhum lugar do mundo fora do Brasil (exceto em alguns bolsões esquerdistas), apesar da pirotecnia “progressista” em torno dele. E que, comprovadamente não educa, mas cria ativismo ideológico; um teórico social (Michel Foucault) para quem escolas, presídios e quartéis são instituições semelhantes, onde o poder estabelecido exerce o controle social sobre o conhecimento.

Em suma, três expoentes da esquerda, o que reflete a deficiência de nosso sistema educacional formal, tantas vezes provada nas avaliações internacionais a que se submeteu. Como conquistar um Prêmio Nobel nessas circunstâncias? Com o saber subordinado à ideologia? Impossível. Seguiremos passando vergonha frente a nossos vizinhos mais pobres e menos populosos. Nossos jovens continuarão a não aprender na escola o básico para o progresso individual e para o convívio social.

Mas nossas elites políticas não se preocupam com essas questões somenos importância.