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Por toda a cidade

Fundador de Navegos revela bastidores da Cultura de Natal e mostra-nos, como gosta de reiterar, “que aqui a mediocridade sempre vence e todos gozam, no final”.

*Franklin Jorge

Dizia-se, anos atrás, que a criação de uma secretaria tiraria de vez a nossa cultura do buraco aonde se encontrava e nele permanece, prefeito após prefeito. Chegamos a ter, no governo de Micarla de Souza, um secretário de Cultura que cagava e andava, depois substituído por outros que sequer deixaram lembranças, boas ou más.

A cultura não precisa de secretária. Precisa, sim, de generosidade e ideias que a façam crescer e se expandir, chegando o mais perto possível de todos nós que amamos nossa cidade sempre desvalida nessas questões que, para os governantes, parecem de somenos, a ponto de alguém perpetuar-se no cargo sem um mínimo questionamento. Não digo dos artistas que já se cansaram de sobraçar o pires, de porta em porta, em busca de lenimento. Mas dos governantes, eles mesmos, que não cobram serviços de seus subordinados, até por que a cultura não lhes interessa senão para limpar-se, economizando o papel higiênico.

Lembro-me que ao eleger-se prefeito de Natal, Garibaldi Alves criou uma secretaria de cultura e a entregou, de mãos beijadas – imaginem a quem? – A Lagartixa Albina, alcunha que alguma alma satírica pespegou no comunista Gileno Guanabara, que logo se mostrou a incompetência e o ódio em pessoa. Fez uma gestão de tal forma medíocre que desapareceu com a própria secretaria que teve como diretor Cultural um ex-vigia noturno que, ao ouvir um bate-papo entre os artistas Núbia Albuquerque, Fernando Gurgel e Madé Weiner sobre Impressionismo, entusiasmou-se e manifestou o seu desejo de convidar Monet a fazer uma oficina de pintura em Natal, provocando uma risadaria geral e incontida. Cáustica, Madé o aconselhou a usar o Espiritismo para fazer o artista francês, morto a quase um século, a baixar em Natal…

No governo seguinte, fui convidado a ocupar sua titularidade, como parte de um acordo financeiro e indicação de seu Partido, o PDT. Como a campanha seria pobre, o jornalista Cassiano Arruda propôs que, se eleita, parte do meu pagamento seria feito através dessa nomeação. Assim me foi comunicado pelo próprio Cassiano; quanto à indicação do PDT, feita pelo presidente Waldson Pinheiro, a quem mal conhecia – ou melhor, conhecia-o apenas de vista e certa vez, numa reunião trocamos algumas rápidas palavras  – só fiquei sabendo muitos anos depois, por puro acaso, através do ex-governador José Cortez Pereira, que estava aa par do acordo que eu próprio ignorava.

Certo da vitória de Wilma de Faria, então ainda a senhora Maia, já fui munido em nosso primeiro encontro com um projeto de animação cultural sob a denominação Por toda a cidade, que serviria de fundamento para a criação da hoje famigerada Capitania das Artes. Respondi-lhe a todas as suas perguntas e, por fim, como parte importante desse projeto no qual não era mencionado, pedi-lhe a extinção da secretaria de cultura, sob  a justificativa de que já estava totalmente contaminada pela inércia e o marasmo e, para mim, que desejava fazer alguma coisa valida e não fazia contas de ouropéis, uma extinção necessária.

A prefeita ficou de queixo caído. Não imaginava que alguém recusasse uma secretaria de governo, sobretudo  pelo reles motivo de ter assumido compromissos eleitorais que a obrigavam a criar novas secretarias e não extingui-las. Percebi de imediato que não estava diante de uma pessoa séria na qual eu investira, além do trabalho de Editor de Mídia Impressa, toda a minha esperança por uma políticas cultural séria e efetiva, o oposto do que tínhamos e continuaríamos a ter pelos séculos futuros. “Vc foi a primeira pessoa que recusou um convite desses…”, disse, como quem acabara de diagnosticar um evidente surto de loucura. Recentemente, ao entrevistar o artista e escritor Iaperi Araújo sobre sua passagem pela secretaria, ele revelou-me que Dona Wilma, ao convida-lo dissera-lhe que havia oferecido a secretaria “a um jornalista” que a recusara…

Propus-lhe, no entanto, que em vez de secretaria ou departamento cultural, criasse um Comitê de Cultura, em moldes europeus e norte-americanos, única solução que me ocorrera para desenvolver uma ação ativa e desburocratizada, contrária a tudo o que estávamos acostumados a ver por aqui.

Disse-lhe que não precisava de uma equipe com mais de dez pessoas e que, para n/ao sofrermos com entraves burocráticos, despacharia diretamente com ela, a prefeita, que preferiu agarrar-se ao compadrismo e aos maus costumes em voga. Encerrou a entrevista, dizendo-me: “Vou mandar o Serejo avaliar sua proposta…”

Nunca mais botei meus pés lá. não seria com aquela sacripanta que eu faria aa revolução cultural com a qual sonhara desde os meus tempos no Rio de Janeiro.

Foto em destaque de Canindé Soares