Adalgisa Assunção
É visível o interesse do prefeito de Natal, Álvaro Dias, em ser reconduzido à cadeira que ocupa no executivo municipal e para isto, não poupa esforços em oferecer (apenas) circo para a população potiguar. Esta é uma prática antiga e tem origem quando os líderes romanos mantinham a população fiel às suas ordens e tinha como objetivo garantir o seu apoio.
A expressão foi cunhada pelo poeta romano Juvenal, que de maneira irônica criticava o povo, por sua falta de informação e de interesse pelas questões políticas que o afligia. Na ótica dele, o povo apenas se preocupava com o alimento e a diversão, enquanto esquecia os assuntos ligados à política.
Álvaro Dias vem copiando a prática romana e já abriu os festejos natalinos, onde figuram expressivos nomes da música nacional, na clara tentativa de oferecer circo para o povo. Mas, é bom lembrar que administrar uma cidade vai além oferecer festas, fazer maquiagem em algumas praças e fazer propaganda em programas de rádio.
O prefeito de Natal se recusa a receber os professores, classe à qual passa um calote desavergonhadamente. O ano letivo de 2018 começou atrasado devido a uma greve de professores. A categoria lutava para receber um reajuste relativo ao piso salarial e cujo valor, o mandatário municipal faz questão de esquecer.
É importante destacar, que o valor a ser pago é insignificante, pois não passa de míseros 10% o que deve corresponder, em alguns casos, a pouco mais de cem reais no salário de um professor. Mas é seu direito receber. Logo, se o prefeito não paga uma conta que está atrasada desde o início do ano, não há dúvida que se trata de um calote.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (Sinte/RN), já tentou dialogar com o prefeito em duas ocasiões distintas, mas ele sequer recebe os representantes dos professores, numa clara indicação de que a Educação não é prioridade no seu governo.
No ano de 1982, o antropólogo mineiro Darcy Ribeiro já afirmava: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Logo, fica claro as razões pelas a Cidade do Natal, berço de Câmara Cascudo, figura nas estatísticas como uma das cidades mais violentas do mundo. Reiterado governos se sucedem e nada fazem para melhorar a Educação no município e no Estado.
O prefeito deveria deixar um pouco o conforto de sua sala e fazer uma excursão para conhecer a situação em que se encontram as escolas municipais. Visitar as instalações infestadas de pombos e onde falta quase tudo o que um professor necessita para realizar dignamente a sua função. Sugiro que durante uma manhã numa sala de aula, apenas para o sentir o calor desta terra potiguar.
Está na hora da população saber, que professores pagam por tudo dentro de uma escola, com um único objetivo: ter condição de dar aula normalmente. Professor paga pela água que bebe, pelo café, pelas esponjas e pincéis utilizados na sala de aula, pela merenda, pelas festas realizadas na escola, enfim, professor paga para trabalhar.
Eu duvido que o excelentíssimo Senhor prefeito trabalhe, caso ao chegar ao seu gabinete perceber que faltou água ou luz no prédio. Certamente que não. Mas, professores trabalham assim.
Além de pagar o que deve, o prefeito ainda deveria, de forma espontânea, pagar à categoria, 30% a título de adicional de periculosidade. Afinal, ensinar na atualidade é uma função extremamente perigosa, já que as crianças de hoje não têm mais respeito algum pelos adultos. Elas são mal-educadas, mal-acostumadas, não respeitam regras, enfim, não têm qualquer limite.
O Brasil é um País que costuma copiar as práticas adotadas por outros governantes. Fica, portanto, a sugestão para que Álvaro Dias copie os salários pagos aos professores em países como a Dinamarca, Espanha e que o tratamento dispensado seja copiado daquele praticado no Japão.
Portanto, sugiro que mude sua estratégia com os professores e também com os médicos, caso contrário sua reeleição vai ser mais difícil do que se pode supor e com um agravante: o excelentíssimo senhor prefeito poderá entrar para a história do Rio Grande do Norte igual à governadora – com o título de caloteiros juramentados.
Adalgisa Assunção, Professora e poetisa