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‘’Primavera cubana’’ acabou em porrete e cadeia

Colaborador de Navegos, autor de livro referencial sobre regime cubana, analisa no que resultou a tentativa de enfrentamento do povo caribenho em busca da liberdade que lhes foi tomada há mais de 70 anos.

*Percival Puggina

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Há um ano, em 11 de julho, quando explodiu em Cuba um movimento de viés libertador levando o povo às ruas, fui muito indagado sobre a sequência e as consequências daquilo. As observações e experiências pessoais colhidas durante várias viagens relatadas por mim em “A tragédia da Utopia” e as informações que regularmente recebo explicam esse interesse por minha opinião. Não sou cubanólogo, mas sim, conheço a dura realidade daquela ilha.

Lembro-me que meus interlocutores se decepcionavam com o que lhes dizia sobre a inviabilidade de uma “primavera” cubana. Era como se preferissem informação ilusória e essa reação me fazia pensar sobre o quanto as fantasias são sedutoras e fáceis de vender. Há quem creia, por exemplo, em Lula de outra pipa…

No entanto, era perfeitamente previsível que aquele regime se recusaria a qualquer entendimento com a população desarmada (desarmada, note-se bem) e iria endurecer contra os manifestantes. Foi exatamente o que ocorreu. O Estado reagiu com inusitada violência – porrete e cadeia – contra todos em quem conseguiu deitar a mão. O evento subsequente simplesmente não aconteceu.

Agora, acabo de ler um rescaldo daqueles dias em matéria publicada na Gazeta do Povo. Trata-se de um relatório divulgado por Cubalex (consultoria jurídica) e pelo Movimento 11J (referido à data dos eventos de 2021): 1484 prisões e 505 pessoas já condenadas ao cárcere ou a “trabalhos correcionais” com internamento. Outras 196 estão em prisão provisória (decorrido ano inteiro de uma simples mobilização popular). Há 703 não encarcerados, dos quais alguns pagaram multas e outros cumprem “trabalhos correcionais” sem internação. Sobre 80 não há informações. Maus tratos e tortura são frequentes e a legislação contra esse tipo de evento tornou-se mais rigorosa.

Triste, não? No entanto, esse regime tem apoiadores internos na população cubana (gente de cabeça feita pelo sistema ou beneficiada por ele de algum modo) e tem à disposição para acionar, uma poderosa máquina repressiva policial, judicial e militar (com ganhos privilegiados). Tem, também, apoiadores externos, entre os quais um candidato à presidência do Brasil. Esse cidadão apoia, igualmente, os regimes da Venezuela, da Nicarágua e, para favorecer a expansão dessas aberrações, criou o Foro de São Paulo.