*Adalgisa Assunção
Déspota, tirano, opressor– são alguns dos adjetivos imputados ao prefeito de Natal, Álvaro Dias, que de forma arbitraria, injusta e ditatorial, desrespeita as leis que regem o direito de reajuste salarial dos professores da Rede Municipal de Ensino. A lei que autoriza o referido reajuste foi aprovada pelo Governo Federal em 2000, mas o prefeito de Natal se coloca acima de lei com a certeza de que nenhuma punição recairá sobre ele. Afinal, está tudo dominado neste meu País verde e amarelo.
O prefeito, assim como a maior parte da classe política brasileira, demonstra não ter o menor compromisso com a Educação e isto fica muito claro na forma como os professores são tratados: Como se fossem cidadãos de terceira ou quarta categoria e cujos direitos não precisam ser respeitados.
A falta de atenção para com os trabalhadores em Educação está levando os profissionais a adoecerem com a Síndrome de Burnout – doença ocasionada pelo acúmulo excessivo de estresse em trabalhadores que têm uma profissão muito competitiva ou com muita responsabilidade, tornando o dia de trabalho em um sacrifício que envolve nervosismo, sofrimento psicológico e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo ou tonturas, por exemplo.
A doença é mais frequente em professores, jornalista e enfermeiros, entre outros profissionais, que não veem as suas capacidades valorizadas no seu ambiente de trabalho, ou porque precisam trabalhar horas seguidas sem pausas, para participar em tarefas de lazer.
Além disso, a síndrome também pode surgir quando se planejam objetivos de trabalho e ao final percebe-se a inutilidade em atingir os objetivos propostos, conforme ocorreu com a última greve realizada pelos professores. Os profissionais lutam por um direito justo e acabam sendo transformados em verdadeiros vilões.
O prefeito, com uma única canetada, aumenta seu próprio salário sem qualquer critério. Também aumenta a quantidade de cargos comissionados dentro das secretarias municipais, com o claro objetivo de favorecer aos seus afilhados, mas aos seus olhos, professor não precisa de dinheiro para sua sobrevivência.
A falta de respeito com esta categoria vem de longe. Acentuou-se durante a pandemia, quando os professores foram obrigados a ficar em casa e dando aula pela Internet utilizando seus equipamentos pessoais, pagando energia e Wi-Fi do seu próprio bolso. Mesmo assim, a prefeitura retirou dos nossos salários o percentual correspondente à carga suplementar.
Para receber aquilo que é seu direito, como quinquênios, licença especial, promoções e qualquer outro direito, o professor precisa recorrer à Justiça. Por isso existem tantos professores adoecidos vítima da Síndrome de Burnout.
Os sintomas da doença começam a aparecer devagarinho e de repente tomam conta do indivíduo, que logo a vê tomar conta de todo o seu ser. E assim, ele passa a sentir-se cansado e sem energia para executar suas tarefas diárias. Passa a ter dor de cabeça frequente; tem alterações no apetite; dificuldade para dormir; tem sentimentos constantes de fracasso e insegurança; sente-se derrotado e sem esperança; tem dificuldade para cumprir com responsabilidades do trabalho; e ainda passa a sentir vontade de se isolar dos outros.
O nível de comprometimento com o trabalho e o medo de perder a suposta segurança gerada pelo salário, deixam o indivíduo preso às exigências absurdas impostas por seu local de trabalho. Vejo todo os dias a angústia estampada no rosto das minhas colegas professoras, por não poderem atender às expectativas que anseiam para sua carreira profissional e não é raro ver alguém se afastando do trabalho por causa de doença causada pelo seu ofício.
A escola da atualidade perdeu sua capacidade de realizar aquilo que é sua competência histórica: ensinar crianças a ler, escrever e contar. A instituição educacional de hoje tem a obrigação de fazer o papel que deveria ser da família, ou seja, a de dar educação às crianças. O papel da escola de hoje, além de ensinar a ler, escrever e contar, é também educar, orientar sobre os perigos de uma gravidez precoce e prevenir contra as drogas, entre outras atribuições que não são de sua competência.
Aliás, o professor da Rede Municipal tem absorvido uma carga de atribuições tão grande, que pouco tempo lhe sobra para realizar as tarefas para as quais se preparou. É público e notório a falta de interesse da classe política no que se refere aos investimentos em Educação. Assim os professores pagam por quase tudo que utilizam para dar aula, mas ao final do período letivo quando os índices de aprovação não são atingidos, a culpa recai única e exclusivamente sobre os ombros dos professores.
O Ministério Público exige que uma sala de aula de 4º Ano, tenha no mínimo, 36 alunos. Mas esquece de exigir que o poder público construa salas capazes de comportar 36 carteiras, para os respectivos alunos. E mais: dentro de uma sala sem ventilação adequada. O governo federal instituiu uma lei para que em 2018, todas as salas de aula de Nordeste estivessem climatizadas. O prefeito de Natal na época, Carlos Eduardo, candidato a senador nas próximas eleições, vetou a lei.
A nossa Pátria Educadora vem produzindo alunos que chegam ao 4º Ano completamente analfabetos. Parece piada, mas não é. Meninos e meninas com 10, 11, 12 anos de idade que não conhecem uma única letra do alfabeto e o pior: não demonstram o mínimo interesse em aprender. Afinal, estudar é cansativo e o retorno advindo de sua prática ocorre a longo prazo.
Hoje, perde-se mais tempo administrando os conflitos dentro da sala de aula, do que ensinando as quatro operações, por exemplo. Ao professor é exigida uma responsabilidade que não lhe compete, como fazer o papel de psicólogo e curar as feridas da alma dos meninos que chegam à escola com os mais diversos problemas de ordem emocional. O curso de Pedagogia não prepara professores para lidar com isto. Logo, não sobra tempo para dar aula.
O mais grave é que, ao final do ano, os meninos que não estão alfabetizados, precisam fazer as provas a fim de seguirem para o 5º Ano. Mas, por mais que eles avancem, não conseguem absorver em um ano letivo, aquilo que não aprenderam nos três anos iniciais de sua educação.
A escola de hoje é um terreno mais do que perfeito para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout, mas também outras doenças como comprometimento nas cordas vocais, depressão, úlcera e tantas outras.
Sinto que a tal Síndrome de Burnout começa a me olhar de forma sorrateira, porque a sala de aula para mim, está perdendo o atrativo de outrora. Estou desmotivada, vou trabalhar sem vontade, sem coragem e já não trago trabalho para casa. Faço aquilo que é possível e procuro não me culpar pelo que não posso fazer. Tudo por culpa de um prefeito que não respeita leis.