*Thiago Góes
Um homem estudioso. Jornalista e escritor experiente. Alguém que pode registrar seus pensamentos de várias formas: de livros a conferências, passando por ensaios. Porém, ele falha na habilidade para levar seus conhecimentos de um modo mais fácil e interessante de se apreciar. Assim é Ítalo Calvino (1923-1985) em Assunto encerrado -Discursos sobre literatura e sociedade. Essa obra foi lançada na Itália em 1980 e só chegou ao Brasil em 2009, com tradução de Roberta Barni.
Assunto encerrado é uma coletânea de visões do autor sobre como a literatura da Itália – país que o acolheu – convive com a sociedade daquele país ao longo da história e mistura-se com a sua evolução. O livro é denso e a linguagem é rebuscada., ele é um daqueles títulos que só fazem sucesso com quem está acostumado com palavras vindas do século XlX – como se o leitor ainda viesse naquela época.
A opinião de quem teve experiências políticas como as de Calvino também não espana pelas idiossincrasias dela. Os momentos onde Calvino critica a imprensa italiana pelas palavras que usa para falar com seus compatriotas esconde uma arrogância cuja visão não enxerga que o mundo não gira em torno de seus ideais. Em outros momentos, Calvino dirige-se ao leitor com um tom professoral, dando muitas explicações sobre seus pontos de vista. Ninguém precisa saber tantos detalhes sobre o que o autor pensa sobre um ou outro assunto. Ou, então, o leitor pode procurar o que fazer.
Um dos (poucos) grandes momentos de Assunto encerrado é o resgate da memória dos seus colegas Cesare Pavese (1908-1950) e Elio Vittorini (1908-1966). Eles tiveram vivencias parecidas com as de Calvino. Sobre Pavese, falava-se sobre como ele se autoconstruía. Sobre Vitorini, lembrava-se da ciência projetando a cultura e do quanto o escritor era severo consigo mesmo, com o talvez nenhum outro escritor na história da literatura1
Entre referências a Galileu, também italiano, e a obras como Don Quixote e Robinson Crusoé, assunto encerrado poderia ser um produto cheio de lições importantes sobre literatura e sociedade (como o próprio subtítulo sugere). Mas os seus defeitos são aprisionar um assunto universal a um padrão de vida que nem todos abraçam, e usar palavras bonitas, porém dispensadas pelo tempo, para impressionar o leitor mais do que ensiná-lo. Isso pode ser um erro em um país onde quase ninguém lê.