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Qual é a verdade, Kafka?

Há muitas. Mas as pessoas precisam aprender de si mesmas a buscá-las.

*Gustav Janouch

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Certa vez, quando Kafka viu um romance policial entre os livros que eu tinha na bolsa, ele me disse:
– Você não deveria ter vergonha de ler uma coisa dessas. Afinal, Crime e Castigo de Dostoiévski também nada mais é do que um romance policial. E o Hamlet de Shakespeare ? É um drama policial. No centro da trama está um mistério que vai sendo revelado aos poucos. Mas existe um mistério maior que a verdade? A poesia é sempre uma expedição em busca da verdade.
– Mas qual é a verdade?
Kafka permaneceu em silêncio por alguns momentos e depois sorriu maliciosamente.
– Parece que você acabou de me pegar dizendo algo vazio, mas na realidade não é bem assim. A verdade é o que todo homem precisa para viver e que, no entanto, não pode obter ou adquirir de ninguém. Cada pessoa tem que produzi-lo repetidamente dentro de si, ou então ele deixará de existir. A vida sem verdade não é possível. Talvez a verdade seja a própria vida.

 


Gustav Janouch
Fragmento de Conversas com Kafka