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Quando nos tornamos humanos

Pedagogo e artista discute questão esquecida por pais e mestres e lança luzes sobre um aprendizado capaz de instruir e humanizar os jovens em idade escolar

Cleudo Freire

Aprender, definitivamente é aquilo que nos difere dos outros animais. O conhecimento está na base de todo processo civilizatório, por isso, não é possível existir uma sociedade razoavelmente estruturada que não invista em conhecimento. Mas, será que estamos investindo adequadamente na aprendizagem geração após geração? Será que estamos sabendo distinguir a real dimensão do que precisamos saber e mais profundamente, como aprender o que precisamos saber?

As expectativas da família e da sociedade sobre a formação das crianças e a condução da aprendizagem por uma escola cristalizada, podem matar a curiosidade, trazer prejuízos à abstração e enfraquecer o desejo de compartilhar o que aprendem. Necessitamos de um ambiente de aprendizagem com mais conteúdos “formais” e “informais”! Mais matemática, mais esportes, mais ciências, mais arte, mais português, mais filosofia, mais tecnologia, mais ecologia.
Não importa se você se torna um bom profissional depois de 16 ou 17 anos de estudo se o vínculo com a própria natureza, a natureza humana que é a aprendizagem, foi perdido.

Isso é tão grave, que pode levar à doenças do corpo e da alma, problemas de locomoção, coluna, falta de resistência e força física, dificuldade de foco, atenção, concentração, reflexão, compreensão e memória que formam os processos cognitivos. Leva também ao acúmulo de estresse, podendo chegar a crises de ansiedade, pânico, depressão e outros problemas psicossomáticos, hoje tão comuns em qualquer ambiente formal de educação.
É na escola que passamos grande parte da nossa vida, sobretudo enquanto nos desenvolvemos física, social e emocionalmente. Por isso, é lá que apreendemos a cultura da sociedade em que vivemos. Infelizmente, esse momento tão precioso de nossas vidas se passa em um contexto de pouquíssimas possibilidades de criação, experimentação, produção e compartilhamento de conhecimentos. Você precariamente aprende conteúdos. Caminha, senta, trabalha, descansa, respira, reflete precariamente, raciocina precariamente, conversa precariamente e com o tempo, torna-se uma pessoa precária, cognitivamente passiva, intelectualmente dependente, preparada para crer e não para refletir, para aceitar prontamente e não para buscar soluções.
A questão é que pouco se fala a respeito disso ainda hoje, é praticamente um ponto cego na sociedade. Precisamos encontrar estudantes adultos e pais responsáveis que queiram olhar para si e para os filhos de forma integral e complexa, como uma pessoa inteira em cada momento e não como um ser a se formar segundo regras externas que negam a natureza humana.
Se quisermos ver nossos filhos mais saudáveis e interessados em conhecimento, se quisermos vê-los como pessoas bem sucedidas, capazes de elaborar planos gradativos de realização de objetivos, se quisermos conviver mais e melhor com eles, teremos primeiramente que aprender a aprender.

Urge uma escola para formação de pessoas aprendentes, cognitivamente saudáveis, autônomos, realizadoras e solidárias. Ou seja, humanamente realizadas.

Cleudo Freire – Pedagogo, Especialista em Educação e músico

Aluno bolinando professora em sala de aula