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Quando o Estado frauda a si mesmo: reflexões sobre o escândalo no INSS

O novo escândalo, o do INSS, será esquecido como o foram o do Mensalão e o do Petrolão?

*Abraão Gustavo

[email protected]

 

O que dizer de um país em que o próprio Estado se torna o fraudador? O escândalo recente envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é mais que um caso de corrupção: é um retrato do colapso moral de instituições que deveriam proteger os mais frágeis, mas se tornam engrenagens de uma máquina predadora.

Enquanto aposentados aguardam meses por uma perícia, enquanto mães solo têm seus auxílios maternidade negados por “falta de comprovação”, e enquanto doentes crônicos enfrentam humilhações para provar o óbvio, bilhões foram desviados por meio de esquemas de corrupção interna. Segundo as investigações, servidores do próprio INSS — em conluio com advogados e intermediários — criaram uma rede de concessões fraudulentas de benefícios, inclusive usando dados de pessoas mortas ou inexistentes.

A tragédia não está só na quebra financeira, mas na quebra de confiança. É como se o trabalhador honesto, ao descontar todos os meses seu suor em forma de contribuição, estivesse financiando uma comédia de erros — onde o riso é cínico, e a piada é cruel.

Vivemos um tempo em que os valores públicos foram trocados por interesses privados. O servidor que deveria ser o guardião do bem comum se transforma, muitas vezes, em sócio do crime. Mas não sejamos simplistas: isso não acontece no vácuo. Há uma cultura permissiva, uma estrutura burocrática desumana e um sistema de controle falho, que mais parece feito para punir o fraco do que para coibir o forte.

Mais que indignação, precisamos de lucidez. É urgente repensar os modelos de fiscalização, humanizar os serviços públicos e restaurar a dignidade de quem serve — e de quem é servido. O escândalo do INSS não pode cair no esquecimento como tantos outros. Porque quando o Estado frauda a si mesmo, é a nação inteira que sangra.