*Renato de Medeiros Jota
Se fosse possível aplicar um início na produção das histórias em quadrinhos (HQs) no Rio Grande do Norte, seria no mês de maio em 1971, quando foi inaugurada a I Exposição Norte-rio-grandense de Historias em Quadrinhos, realizada na Biblioteca Pública Câmara Cascudo, em Natal. Essa data é importante porque reuniu os militantes desta arte, mesmo que já desfrutassem de espaço nos jornais locais para divulgarem seus trabalhos.
Geralmente, quando nos referimos à produção de quadrinhos no Estado, centralizamos nossa análise na capital, em detrimento das demais cidades potiguares. Mas qual o motivo? Talvez o fato de a sede do Grupo de Pesquisa de História em Quadrinhos (Grupeq) estar em Natal explique. Mas, talvez um outro motivo seja a criação da “Maturi”, uma HQ tão duradoura e na qual concentrava nos anos 1980 e 1990 muito da produção local, e até mesmo no passado, essa escolha é bastante razoável.
A produção de quadrinhos em Natal durante 40, 30 anos atrás foi bem irregular, exceção feita à “Maturi”, fruto da produção local e centrada em publicações que abordavam a temática histórica, política e humorística da região e capital. Distribuída com regularidade e passando por diversos formatos, ela foi uma decorrência natural das discussões do Grupeq e dos desenhistas/roteirista que lá formularam o modelo da revista que viria a ser criada.
Fizeram parte desse momento Emanoel Amaral, Gilvan Lira, Márcio Coelho, Luis Elson, Aucides Sales, Evaldo, Carlos Alberto e tantos outros que seria difícil falar de cada um aqui. A revista continua a ser impressa, ocasionalmente, mostrando todo o vigor da publicação e variando nos dias atuais vários temas, mas sempre tentando manter a essência de seus primórdios.
Mas com a passagem da década de 1990, quando o quadrinho independente havia migrado dos fanzines que homenageavam muitas vezes super-heróis, passando para o culto ao anti-herói e com histórias mais realistas, o quadrinho chegou ao século XXI transformado. Mas antes devemos observar que paralelo a isso a produção local de HQs passou pela mesma mudança, deixando de fazer quadrinhos com temas histórico, político e humorístico para centrar sua produção em histórias sobre o cotidiano, fantasia, ficção cientifica, terror e sexo. Muitos delas ainda eram dedicadas ao fanzine, que era produzida em mimeografo lá nos anos 1980 e, depois, em xerox nos 90’s.
No entanto, assim como aconteceu com a evolução natural dos demais veículos de informação e divulgação, outros meios de produção – e até mesmo os aspectos econômicos – ajudaram a publicações independentes e autorais de quadrinhos, os quais são tão bem-feitos que rivaliza muitas vezes com a produção comercial. A internet foi a principal ferramenta que acelerou essa transformação, e ajuda até hoje na divulgação e venda das publicações dos autores. Mas podemos perguntar, nesse contexto, o que mudou na produção “atual” dos quadrinhos potiguares e especificamente em Natal?
Tarefa difícil especificar uma data para isso. Porém, podemos dizer que a produção local de quadrinhos vinha aos poucos ganhando forma e continuidade através do sucesso individual ou coletivo dos produtores. Todavia, se for para dar um início a essa nova fase, a 1ᵃ edição coordenada por Luiz Elson foi o ponto inicial ou, quem sabe, reinício de muitos autores de quadrinhos Rio Grande do Norte, tanto de antigos quanto de novos.
Posteriormente, a partir de encontros em eventos como a Feira de Livros e Quadrinhos de Natal (Fliq), por exemplo, que esses produtores começaram a efetivamente a transformar os quadrinhos em algo possível e apresentá-los, finalmente, ao público como capazes de ao mesmo tempo informar e produzir cultura de forma séria e organizada. As publicações pareciam impressos de bancas e editoras, algumas vezes, melhores. E os temas variavam, conforme o gosto do público, abordando assuntos como romance, ficção cientifica, terror, biográfico, infantil etc.
Nomes novos se somaram aos antigos na produção de quadrinhos em Natal e no Rio Grande do Norte. Tais como Mario Rasec, Leandro Moura, Cristal Moura, Milena Azevedo, Wendell Cavalcante e Jamal Singh, Joseniz Guimarães, Beto Potyguara, Luiz Elson, Carlos Alberto, Marcos Garcia, Wanderline Freitas, Jádson Silva, Marcelo Janú e muitos outros, que buscavam não só publicar, mas também incentivar a leitura dos quadrinhos, além de criar eventos que formassem e apresentassem ao público essas publicações.
Eventos como a já citada Fliq, Quadrinhos e Cultura Pop na Paraíba (HQPB), Festival Internacional de Quadrinhos (Fiq) e as feirinhas organizadas por Milena Azevedo, Marcos Garcia, entre outros, contribuíram para melhorar esse cenário. Os convites para palestras em instituições federais, ou mesmo em espaços privados, que visavam a divulgação cultural, também ajudaram a difundir o conhecimento e o material dos autores independentes de quadrinhos em Natal. Essa divulgação culminou com o edital Moacy Cirne de quadrinhos de 2014, que publicou a coletânea potiguar de quadrinhos, onde reuniu alguns autores e produtores da cena local.
Atualmente, o cenário que podemos encontrar do quadrinho potiguar é promissora, apesar da crise econômica do país. Os eventos vêm acontecendo para que essa arte se torne cada vez mais presente. Os filmes e séries derivados desse universo também contribuíram para seu conhecimento de modo geral, mas vale ressaltar o grande esforço feito pelos produtores e fãs de quadrinhos potiguares para seu reconhecimento, que sem eles nada disso seria possível.
O quadrinho potiguar vem se tornando forte a cada evento e publicação. Nomes de peso têm se destacado tanto dentro do país quanto fora dele. No Brasil, alguns desses destaques são Leander Moura, Rodrigo Xavier, Milena Azevedo, Jamal Singh, Gabriel Dantas, dentre outros, e, no exterior, Wendell Cavalcante, desenhista do “Fantasma”, e de Gabriel Andrade Jr., desenhista da Editora Avatar, dos Estados Unidos. Todos eles mostram a força e abrangência da produção potiguar que vem contribuindo para o fortalecimento da cultura potiguar.