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Rainha sem coroa

Colaboradora de Navegos relembra uma das personagens mais famosas e queridas de João Câmara, política e fazendeira que foi esposa do ex-prefeito Chico da Bomba, já falecido, que deixou o nome marcado na história do município.

*Nadja Lira

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Francisca Teixeira, a quem todos em João Câmara conhecem carinhosamente como dona Maninha, foi esposa do ex-prefeito Chico da Bomba e responsável por sua destacada atuação na política do Mato Grande. Por ser detentora de um porte altivo, elegante e firme, recebeu de seus adversários políticos, o apelido de rainha sem coroa. Mas se alguém imaginava que tal apelido iria aborrecê-la, enganou-se redondamente, porque ela não deu a mínima. Até gostou do termo, assumindo publicamente ser uma rainha – apenas faltava-lhe a coroa.

Vereadora por mais de uma legislatura, Maninha era filha de um abastado fazendeiro da Baixa de Angicos e atuava na política sem jamais esquecer suas raízes profundamente fincadas nas fazendas da família. Assim, circulava com desenvoltura entre os dois mundos.

Depois que seu pai partiu para a eternidade, coube a ela a responsabilidade de administrar as terras deixadas por ele, uma vez que seus irmãos decidiram trilhar outros caminhos longe do Rio Grande do Norte. E ela que sempre demonstrou a habilidade necessária para conduzir os trabalhos que uma fazenda requer, acabou por aumentar as propriedades herdadas dos pais.

Sem demonstrar qualquer dificuldade, ela logo tratou de aumentar o gado, duplicando a quantidade de bois para corte e vacas leiteiras, como também fez crescer o plantel de cabras, carneiros, porcos e galinhas. Jamais demonstrou hesitação em lidar com os trabalhadores, os quais sempre a trataram com respeito e consideração.

A única vez em que Maninha enfrentou algum obstáculo na administração de uma das suas fazendas, ocorreu quando o vaqueiro de sua mais profunda confiança decidiu pedir demissão, porque queria se mudar com a família, para tentar a sorte em Goiás. Ela ainda tentou dissuadi-lo da ideia, mas, como ele estava determinado à mudança, ela, embora lamentando a perda, pediu ao contador para providencia o pagamento do vaqueiro e ele partiu.

A notícia de que dona Maninha estava precisando de um vaqueiro logo se espalhou pela região e um candidato para o cargo se apresentou. Tratava-se um gaúcho que chegara à região do Mato Grande fugindo das enchentes e geadas do Rio Grande do Sul.

Durante a entrevista, a experiente fazendeira se deu por satisfeita com a conversa do gaúcho e decidiu contratá-lo. Mostrou a ele as dependências onde iria morar, mostrou a fazenda e por fim entregou-lhe todo o material necessário para a ordenha das vacas, entre os quais, o banquinho usado pelo vaqueiro anterior.

Enquanto o gaúcho guardava o equipamento, Maninha lhe fez uma advertência: “quando você tirar o leite das vacas, coloque um copo na janela do meu quarto, porque quando eu acordo, gosto de tomar o leite quentinho, tirado na hora”. O gaúcho respondeu prontamente: “não se preocupe, porque eu iniciarei o trabalho conforme combinamos”.

No dia seguinte, Maninha acordou, abriu a janela, mas o copo de leite não estava lá, como havia sido combinado. Olhou para o curral e mal podia acreditar naquilo que seus olhos viam, tamanho era o alvoraço entre os animais.

Rapidamente trocou de roupa e correu para o curral a fim de saber o que estava acontecendo. As vacas corriam de um lado para o outro, enquanto o vaqueiro corria em seu encalço, tentando laça-las, sem sucesso. Ele já caíra várias vezes, de forma que tinha esterco e lama espalhada por todo o corpo.

“Gaúcho, o que está acontecendo aqui? Cadê o leite? ” – Indagou ela. O vaqueiro cansado, mal conseguia balbuciar uma palavra. Depois de um tempo disse: “ainda não consegui, dona Maninha, mas estou tentando desde às 4:00h da manhã”.  “Não conseguiu, o quê, homem de Deus? ” – Perguntou ela, entre surpresa e irritada. “Não consigo fazer as vacas sentarem nesse banquinho para que eu possa tirar o leite”. Disse o Gaúcho, demonstrando que não sabia tirar leite de vaca.

A rainha sem coroa explodiu numa gostosa gargalhada e mandou chamar seu compadre Alarico para solucionar a questão da ordenha das vacas. O gaúcho saiu para tomar banho e, envergonhado, deixou a fazenda e decidiu procurar emprego na empresa eólica que se instalou na região