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As mudanças que desejamos não mudam radicalmente as coisas, elas reinterpretam-nas, mantendo-se a base.

*Alexsandro Alves

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Em meu artigo sobre a vanguarda estética futurista e sua relação com o fascismo (aqui), eu escrevi que: Essas mudanças, revolucionárias em suas épocas, hoje são status quo. As mudanças não mudaram as raízes. O conservadorismo sabe acolher e incorporar como seus as mudanças pensadas como revolucionárias.

Eu demorei para perceber isso.

Há tempos atrás eu imaginava e acreditava na seriedade das revoluções, era como se eu pensasse e pensava mesmo, que o ser humano nascesse para revolucionar sempre. E essa revolução estava sempre acontecendo diante de meus olhos e se completaria com a quebra definitiva de tudo.

Há uma sensação de superior separação do todo com tais pensamentos. O indivíduo, ao se sentir separado do meio e cheio de ímpeto para modificá-lo, se sente mais. Por isso é bom o sentimento revolucionário. O lado ruim é quando esse sentimento impede o crescimento.

A única revolução que de fato mudou algo, e que permanece, foi a Revolução Francesa, inspirada na Americana. Todas as outras fracassaram ao longo do tempo – as que ainda permanecem, o fazem autoaniquilando-se aos poucos dias após dia, como a Cubana.

A Revolução Sexual não aboliu a família e nem a igreja. Num primeiro momento assim se imaginava e assim se falava dela: vai estabelecer uma nova sociedade. Mas não foi assim que ocorreu. As mulheres emancipadas casam-se e têm filhos. Ainda acreditam no amor e na família.

As instituições absorveram as mudanças. E no fundo, todos e todas (e quando a instituição gramática estiver preparada, todes), desejam o aconchego das quatro paredes de um lar. Todes querem isso também.

Não romperam com as instituições burguesas, apenas as alargaram. O saudável status quo permanece. E permanecerá in saecula saeculorum.

Tomemos o mais internacional dos movimentos sociais, o feminismo. Várias pautas feministas, ao longo das décadas, já foram incorporadas às tradições burguesas.

E não houve ruptura. Houve legislação. O que antes era revolta, com o passar do tempo é tradição.

Hoje eu consigo enxergar dessa maneira. Há um apaziguamento em torno dessas questões.

O indivíduo revolucionário apenas quer uma nova pintura para sua casa. Como a tinta é nova, sua fabricação é sempre um pouco demorada e o cliente reclama, com todo o direito de reclamar…

É sobre manter os fundamentos, mas com aparência nova.  Embora ele pense que seja o caso de deitar vinho novo em odre novo.