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Reflexo da Psicanálise nas artes plásticas

Leila Míccolis analisa série de desenhos produzidos entre os anos de 1970-74 pelo artista plástico Franklin Jorge, ainda inédita

*Leila Míccolis – Escritora, Poeta, Telenovelista e Ensaísta e co-autora com Glória Perez do livro de poemas Mercado de Escrava, cuja capa reproduz um dos desenhos da série Intróitos Parafílicos.

Para a psiquiatria clássica, qualquer ato sexual que se afastasse do estrito coito entre um homem e uma mulher era taxado de “perversão sexual”. Sigmund Freud, com sua visão revolucionária do psiquismo humano, o que não era tão rara quanto se pensava a prática de outros atos sexuais além do coito; muito ao contrário, sua difusão entre todos os povos nos leva a aceita-la como normal, a não ser que se queira considerar a imensa maioria dos homens como enfermos psíquicos.

A condenação moral inerente ao termo “perversão”, oriunda de um moralismo estéril e ultrapassado, foi abandonada pelos atuais psicólogos e psiquiatras que, seguindo o exemplo de I.S. Kraus e W. Stekel, preferem utilizar o termo “parafilia” para designar todo comportamento sexual que não se enquadre no esquema convencionalmente aceito.

Aproveitando as noções psicanalíticas, o pintor começou a visualizar essas práticas, transmitindo-as numa coleção de desenhos. Jorge é didático em seus Intróitos Parafílicos. Através seu enfoque lírico-agressivo, mostra os momentos paralelos da sexualidade considerada “pseudo-normal”. Não adotando uma posição rígido-ortodoxa face à vida, retratam, ao contrário, a posição comportamental de indivíduos sadios sexualmente, pondo animais e trios, sexos idênticos e uma cumplicidade íntima entre os integrantes de suas cenas móveis.

Deixou-se disponível para, com fidelidade, fixar os instantes amorosos em suas opções imaginativas. Multiplicou sugestões, explorou possibilidades e, principalmente, suas mulheres, bichos e homens de preconceitos e limitações. Férteis e graciosos, fazem parte de uma unidade afetiva, de uma balé sensório. O impacto, e impacto houver, ficará a cargo da naturalidade dos personagens, suscitando a estranheza de uma sociedade convencional, pouco habituada aos atos e situações espontâneos.

O trabalho de Franklin Jorge, a par de sua intensidade romântica, é essencialmente critico; dá às pessoas as suas próprias dimensões, analisando os mecanismos sociais e psíquicos a partir do pretendido e do alcançado, e a importância de tal contradição no elemento humano. Enseja uma revisão valorativa nos padrões diários e uma ampliação das perspectivas comuns.

As manifestações dos cidadãos estão sujeitas à tutela da comunidade. Assim, “Intróitos Parafílicos” em vez de ser uma obra individualista, visa a comunidade, numa mensagem de alerta a todos quanto restringem seu campo de atuação, sem notar que amar é permitir, que amar é viver. Franklin Jorge é um entendido em amor.

Rio de Janeiro, Fevereiro de 1975.

 

Leila Míccolis - Escritora, Poeta, Telenovelista e Ensaísta e co-autora com Glória Perez do livro de poemas Mercado de Escrava, cuja capa reproduz um dos desenhos da série Intróitos Parafílicos.